segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Discoteca Básica ou a lenda do Capitão Coração de Bife



A revista Bizz, junto com a SomTrês e a Roll formavam a tríade das publicações que marcaram os anos 80 e me faziam juntar uma grana todo mês para comprar e ler sobre música e cultura pop.

"Discoteca Básica" era uma das seções da Bizz onde muita gente boa como José Emilio Rondeau, Bia Abramo, Thomas Pappon, Alex Antunes e Hermano Vianna escreviam sobre álbuns que ampliaram o repertório geral. Geralmente, a "Discoteca Básica" vinha na última página e era por onde eu começava a ler a revista. Conheci muita coisa por ali, como o Berlin do Lou Reed, o Astral Weeks do Van Morrison, o Low do David Bowie, o Transa do Caetano, o Revolver do Walter Franco, o Dirty Mind do Prince e o Trout Mask Replica do Captain Beefheart.

Todos os discos supracitados me (ins)piram até hoje. Um deles especialmente. A resenha do Captain Beefheart (número 32 - Edição de Março de 1988 - Escrita por Peter Price) só me fazia pensar, por força de tanta estranheza e informação nova, onde e com quem eu poderia arrumar uma cópia de um disco assim: Em 1969, auge do psicodelismo hippie, Don Van Vliet (aka Captain Beefheart) compôs as 28 faixas do "Trout Mask Replica" em oito horas com apenas um piano e um gravador, os músicos da "Magic Band" tinham nomes como "Drumbo", "Zoot Horn Rollo", "Rockette Morton" e "The Mascara Snake", despejavam dissonâncias, improvisações, slide guitar, assobios, vinhetas e uma capa de foder.

Precursor do Punk/New Wave, parecia uma coisa radical destinada somente a uma faixa altamente especializada de consumidores. Músicos, por exemplo. Na época eu pensava assim, hoje acho que é música para quem gosta de música.



A primeira vez que ouvi a voz do Captain Beefheart foi na faixa "Willie the Pimp" no disco Hot Rats do Frank Zappa (os dois eram amigos desde a adolescência) e virei fã na hora. Ouvia a música tantas e tantas vezes e não enjoava.



Era um riff de guitarra nos moldes clássicos de "Smoke on the Water", "Satisfaction", "Kool Thing" ou "Paranoid"...e a voz rouca de Beefheart encarnando um cafetão de cabelo penteado para trás, calça cáqui e sapatos pretos brilhantes vendendo HOT MEAT, HOT RATS, HOT ZITS, HOT ROOTS, HOT SOOTS, HOT CHEST. Aliás, o disco inteiro "Hot Rats" é um capítulo a parte e pretendo falar disso um dia. Por hora, voltemos ao Captain, my Captain...


Eu ouvia também muito Tom Waits. Adorava todas as músicas e aquela voz de blueseiro velho à sombra do apocalipse. Quando comecei a ouvir as músicas de Beefheart eu lembrava muito de Tom Waits e mais Howlin' Wolf on acid. Depois li em algum lugar que o disco "Swordfishtrombones" de 1983 de Tom Waits foi concebido após várias imersões na música de Van Vliet. Mas não foi só apenas isso...


O pessoal do Sonic Youth fez um cover de "Electricity" (música do primeiro disco de Beefheart) e incluiu como faixa extra na versão de-luxe do álbum "Daydream Nation". E caras como Matt Groening, Kurt Cobain, Black Francis e John Frusciante também incluem Captain Beefheart como uma influência primordial.


O disco "Lick My Decalls Off" (1970) abre com o singelo poema:


"Rather than I wanna hold your hand/

I wanna swallow you whole/

and I wanna lick everywhere it's pink/

and everywhere you think"


Desde que ouvi isso, pirei e corri atrás do que pintasse com o nome Beefheart na capa. Encontrei o primeirão "Safe as Milk" (1967) e o tão falado "Trout Mask Replica" (1969) em alguma loja que já não deve mais existir.


Entrar em contato com essas obras de invenção pura, com jeito de oráculo, onde o sentido vai se dando, para usar uma expressão do poeta Régis Bonvicino, pelo "encantamento sincopado dos sons" me faz pensar que a lenda do Capitão Coração de Bife vai permanecer viva em qualquer discoteca básica. Bom, pelo menos na minha vai.


quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Com quantos Bootlegs se faz uma discografia?


"Ain’t it hard to stumble
And land in some funny lagoon?"

Bob Dylan - Outlaw Blues


A impressão que se tem sobre a trajetória de Bob Dylan é a de que desde o primeiro disco em 1962, ele plantou raízes tão profundas que pra se desenterrar seria preciso cavar até o outro lado do mundo.


Falo do número 8 (!) da série de bootlegs (sobras de estúdio, versões alternativas, faixas ao vivo nunca lançadas) de Bob Dylan. Pra muita gente boa que faz música, oito discos é uma longa carreira.


"Tell Tale Sings" corresponde a fase que vai de 1989 a 2006. Época em que Dylan foi moldando o visu "Vicent Price" e gravando discos como "Oh Mercy"; "World Gone Wrong"; "Time Out of Mind" e "Modern Times" de canções tão elegantes, belas e difíceis de imaginar como seriam tocadas de outra maneira.


Voltando um pouquinho, mais precisamente em Março de 1965 até Maio de 1966, Dylan lançou três clássicos do rock de todos os tempos: "Bringing All Back Home"; "Highway 61 Revisited" e "Blonde on Blonde". Até que um acidente de moto o retirou de cena. Alguns anos depois ele reaparece com "John Wesley Harding" (1967) e "Nashville Skyline" (1969). Dylan literalmente pisa no freio e muda o clima das canções revisitando folk e blues.


Vinte anos depois, em "Oh Mercy" (1989) até "Modern Times" (2006) Dylan fez álbuns que, como um novo tipo de encantamento, trazem o reencontro com as primeiras influências: Hank Williams, Lonnie Johnson, Charley Patton, Leadbelly, Johnny Cash... É possível sentir na música de Dylan, a presença de todos esses artistas feito nomes que surgem em uma conversa e se vão.


"Para os Beatniks, o mal era o convencionalismo burguês, a artificialidade social e o homem de terno. As canções folk automaticamente levantam-se contra o cerne de todas essas coisas. As músicas de folk e blues já haviam dado meu conceito pessoal de cultura. Todas as outras culturas do mundo eram ótimas, mas quanto a mim, a minha cultura, aquela em que eu havia nascido, cumpria o papel de todas elas." Bob Dylan em "Crônicas".


E no incessante Baú do Bob vem aí "The Bootleg Series Vol. 9". Para um artista que rotineiramente reescreve a própria obra, parece que a coisa está longe de acabar. Tomara.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Uma tarde na Modern Sound



Calçadão de Copacabana. Era um dia quente. Eu fumava um cigarro e meu amigo também. Andamos até a loja de suco para fazer um lanche. Começamos a conversar sobre um filme recente que lembrava um filme dos anos 80.

"Rocco!" Gritou um italiano do outro lado da rua, acenando para um amigo. Como eu sabia que era um italiano? A cidade está cheia deles. A cidade está cheia de estrangeiros. Grupos de todos os tipos. Italianos, chineses, turcos, indianos, russos. Copacabana está sempre cheia deles. Muitas vezes eu mesmo me sinto um turista em Copacabana. Talvez por não ser daqui. É, taí uma boa razão para que eu me sinta assim.

A TV da casa de sucos está sempre ligada. Não importa muito o que está passando. Às vezes é um campeonato de poquer, às vezes é um jogo de futebol e às vezes é um cardápio em slide show dos sanduíches e refeições que eles oferecem.

O rádio do restaurante ao lado é quase um alto falante. O lugar está lotado e as pessoas precisam falar mais alto para que sejam entendidas. Isso tudo forma um emaranhado imcompreensível de vozes, misturadas com o barulho dos ônibus e dos carros.

Entramos na livraria. Certos discos e livros possuem um certo magnetismo. É impossível sair da frente de alguns até que você decida comprar.

Naquele momento, eu estava entre a biografia de Keith Richards e a do Chacal. Levei o segundo. Certos livros tem magnetismo.

Enquanto olhávamos a seção de CDs, meu amigo comentava sobre essa onda de reprocessar, reconstruir, desconstruir um clássico, a sensação é a de que ocorreu uma dobra no tempo e aquele disco você acha que poderia ter sido gravado ontem. Você vai ao passado e volta ao presente em cada nota. Respondi que sim e meu amigo saiu para fumar.

Continuei ali em pé. A livraria também tinha uma TV ligada. Parece que todo lugar deve ter uma TV ligada. Um velho assistia com atenção as notícias.

Comentei com o meu amigo sobre a regravação que o Beck fez do primeiro do Velvet, lembrei também do Dougal Reed e a reinvenção do Rumours do Fleetwood Mac e o que o Flaming Lips fez com o Dark Side of The Moon, que deve ser o disco mais reprocessado da história. O pessoal do Easy Star reprocessou em dub, fizeram a mesma coisa com o Ok Computer do Radiohead e o Sgt. Peppers dos Beatles. Parece aquela história do Borges em que um sujeito reescreve todo o Dom Quixote linha por linha e no final não é o mesmo disco, ou melhor, livro. Não tem uma história dessa?

Andar. Circular. Ler e reler, ver e rever, ouvir e reouvir a história do rock.
i love rock and roll.

Eu estava pensando em todas essas coisas. O meu amigo perguntou sobre um livro que eu tinha comentando com ele, mas esqueceu o nome. Também não consegui lembrar. Vejo um homem que examina disco por disco da loja.

Alguma coisa. Alguma coisa existe nessa onda. Alguma coisa existe nessa onda de vinil que nos deixa realmente presos ao passado. Eu mexia e remexia os discos e sempre dava de cara com alguma coisa interessante.

Antigamente (antigamente, haha.) a sensação de estar dentro da Modern Sound era a de estar em um parque temático. Tamanha era a alegria de poder olhar todos aqueles discos reunidos. A História da Música Universal ao alcance das mãos, e na maioria das vezes, fora do alcance do bolso.

Hoje, a sensação é a de estar em um museu. Toda a discografia do Jethro Tull, Eric Clapton, Free, Tangerine Dream, Frank Zappa, Miles Davis, Charles Mingus, Lee Scratch Perry...penso em qualquer artista, é bem capaz de se encontrar por lá em uma nova edição, ou em uma caixa luxuosa. Coisas que só a Modern Sound tem, ou tinha, agora que vai fechar. Nunca existiu uma loja como a Modern Sound.

Na Modern Sound permanecem aqueles mesmos códigos para os discos: "D1-Importado", "LX2-Nacional", "F-Lançamento Nacional"...coisas assim, não decorei exatamente os códigos, até porque para saber o valor é preciso consultar a tabela correspondente de cada letra e depois...enfim, um sistema arcaico, e aparentemente bem sucedido.

Pensei em levar algum CD como uma memória afetiva, e fiquei com o "Sweetheart of the Rodeo" dos Byrds em mãos. Estava uma "bagatela" de 65 reais, (era o LX2 ou algo que o valha). Em algum momento, lembrei do meu amigo que disse ter conseguido em outra loja por 20, ou 15 reais e acabei desistindo da aquisição, depois eu gravo, ou baixo de algum rapidshare da vida, sei lá.

Saímos da loja e a rua estava silenciosa. Chovia um pouco.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Os Shows da Minha Vida (à moda de Felipe Hirsch)



Depois de ler a coluna "Pop Cult 29" de 06/12/2010, como faço toda segunda-feira, o diretor teatral Felipe Hirsch responde a provocação de um amigo de infância sobre quais seriam os shows que marcaram a vida dele. Também me senti provocado e com vontade de elencar os meus preferidos.

Só uma exceção que, no meu caso, acho necessária. Show transmitido, pode? É porque a primeira vez que vi um show de verdade foi em Manaus, pela TV. Kiss ao vivo no Maracanã (ou Maracanãzinho, não lembro), 1982. Turnê do "Creatures of the Night". Com um tanque de guerra no palco que atirava "de verdade". A banda ainda tocava de máscara. Eu não conseguia falar de outra coisa durante meses. O som e as imagens não saiam da minha cabeça. Aluguei muita gente falando sobre o Gene Simmons cuspindo sangue, o solo de bateria do Eric Carr, a guitarra que expelia fumaça de Vinnie Vincent e Paul Stanley quebrando a guitarra logo depois de "Rock and Roll All Nite". Lembro que no domingo seguinte, no Fantástico, o Kiss apareceu pela primeira vez sem máscara, lançamento do "Lick it Up". Comprei o disco e, revoltado, desenhei as máscaras com caneta bic na cara dos integrantes. Depois me arrependi por ter estragado a capa. Mas percebi que a melhor fase do Kiss é o Kiss de máscara e logo me perdoei.

Ainda em Manaus, o primeiro show que assisti ao vivo na beira do palco foi no teatro do Hotel Tropical, 198?, com Leo Jaime, Kid Abelha e minha banda preferida na época, Ultraje a Rigor. Eu nunca tinha visto nada igual. Pessoas cantando, dançando, querendo tocar nos músicos. Lembro de ter ficado muito impressionado com o Carlinhos, o guitarrista e com o Roger. Como eles tocavam bem. Na época, "Inútil", era uma espécie de "Satisfaction". O baterista Leospa conseguia ser engraçado e simpático mesmo escondido. Achava que até então nada poderia ser igual ao "Nós Vamos Invadir Sua Praia". Até que veio o "Cabeça Dinossauro" dos Titãs e o "Selvagem?" dos Paralamas.

Depois do primeiro show ao vivo, eu não queria outra vida. Queria saber de tudo sobre o mundo do rock, metal e derivados. Não ligava muito para música brasileira, apesar de tocar muito em casa. Só abria exceção pra Roberto Carlos que não saía dos alto falantes de qualquer rádio que estivesse ligado em qualquer lugar da cidade. Mas eu curtia. O Rei emocionava de verdade.

Ainda falando de Manaus e "ao vivo pela TV", lembro do show do Iron Maiden no primeiro Rock in Rio. Aquilo sim, foi pesado. Marcou tanto que adquiri o passaporte eterno para o mundo do metal. Virei fã incondicional do Iron, comprei todos os dicos e imitava o Bruce Dickinson e o Dave Murray no espelho. Prometi a mim mesmo assistir ao vivo, pelo menos uma vez na vida ao show de qualquer banda, ou músico do meu interesse. E até que uma certa forma, venho cumprindo essa promessa.

Quando mudei para o Rio, a coisa mudou de figura. Pra melhor, quero dizer. Assisti ao primeiro show do Echo and the Bunnymen por aqui no canecão e segundo eles, foi o melhor show de toda a carreira da banda. Lembro que no mesmo mês, ou no mês seguinte, no mesmo Canecão, assisti Jesus And The Mary Chain dois dias seguidos com gente rolando pelo chão de tanta euforia.

Logo depois veio o PIL e achei que fosse dar merda com a plateia que não parava de xingar o John Lydon. No final do show ele mandou, fora do palco, mas ainda com o microfone: "Go home, silly people!" E não voltou pro bis. Fiquei com raiva e ao mesmo tempo feliz. Punk que é punk não respeita as convenções. Na época eu já enveredava pro punk rock, mas ainda era ligado ao Metal.

Qualquer show de qualquer banda de metal, trash-metal, hardcore e que fosse pesada e de vocais incompreensíveis, eu estava ou gostaria de estar. O "Caverna" era o lugar. Verão no Rio de Janeiro. Calor insuportável. Mas ali muita gente ficava de preto, correntes e tachinhas reluzindo ao sol. Eu queria vomitar e cuspir nos "New Wave". Depois eu comecei a gostar das bandas "new wave" e parei de ir naquela merda de lugar.

Uma banda, particularmente, me fez repensar tudo o que eu ouvia: "Felini". Enxergar o mundo através das composições de Thomas Pappon e Cadão Volpato era uma maneira de se tornar mais inteligente. Eu já gostava da banda e fiquei sabendo que eles fariam uma apresentação única no Teatro Ipanema. Lançamento do "Amor Louco". Foi uma experiência incrível ver aqueles caras de perto. Nessa noite conheci dois dos meus melhores amigos. E acho que conversamos até de manhã sobre o que tínhamos acabado de ver. Outra promessa que fiz a mim mesmo foi de sempre que o Felini viesse tocar aqui no Rio eu estaria na plateia. E cumpri. Fui a todos os shows dos caras aqui no Rio.

Esse tipo de promessa também me ocorreu com "Chico Science e a Nação Zumbi". Fui a todos os shows que eles fizeram por aqui. Até quando eles abriram pra Fernanda Abreu, na Barra, eu fui. Era só meia hora de show. E eu estava lá. Lembro que rolou um desrespeito da produção. Fecharam as cortinas e a banda ainda estava no palco. Acho que na época, ninguém entendia aquele som.

Quem teve a oportunidade de ver o Chico Science no palco sabe do que estou falando. Era realmente uma coisa inovadora. Quando ele entrava em cena e começava a dançar com o Toca Ogan era um espetáculo a parte. A banda, as músicas, o visual, era realmente uma nova proposta que faz eco até hoje. Não perdia um show sequer da galera do Recife. Mundo Livre ainda com Otto, Eddie, Mestre Ambrósio (assisti em êxtase, literalmente), Jorge Cabeleira, Cumadre Fulozinha, DJ Dolores...Eu queria mais era largar tudo e ir morar em Olinda, assistir a cena "Mangue Beat" ao vivo, de perto. Falar, conhecer, documentar e ficar amigo de todos aqueles artistas. Conheço muita gente boa que fez isso.

Lembro de quando rolava uns shows no Arpoador, tinha um palquinho ali e a galera se amontoava pra assistir: Johnny Alf, Moraes Moreira, Pepeu Gomes, Tim Maia, Jorge Ben... Nunca deu confusão, nunca rolou uma briga, nem repressão. Pelo menos perto de mim, pelo menos com os amigos que estavam comigo. Ainda bem.

Hoje em dia, ainda gosto de assistir shows ao vivo. Não ando muito empolgado com multidões. Aliás, nunca fui. Sempre gostei de shows mais intimistas, em lugares pequenos. Mas é claro que tinha que abrir uma exceção e ver R.E.M. e Neil Young no Rock in Rio, 3 ou 2, sei lá. O show do R.E.M. foi belíssimo. banda afiada e acho que ainda com a formação original. Michael Stipe tomava uma caipirinha atrás da outra e inspirado nele, passei a fazer o mesmo. No Neil Young tanta gente foi embora que dava pra chegar até bem perto do palco. A Guitarra dele parecia falar. Comigo.

Sonic Youth, Kraftwerk (2x), Radiohead, Strokes, Franz Ferdinand, Elomar, Xangai, Legião Urbana, Tulipa Ruiz, Dom Um Romão, Hermeto Paschoal, Mad Professor (a primeira vez, em SP), Ronei Jorge, Planet Hemp, Raimundos, Ramones, Yo La Tengo, Titãs, Plebe Rude tocando The Clash (hilário), Jards Macalé (10x), Jorge Mautner (50x), Luis Melodia (Trocentas x) Itamar Assumpção (3x, sendo uma delas ao vivo no bairro da Penha - SP - lugar onde o sujeito nasceu), The Cure e New Order (2x), são shows que merecem um post para cada. Talvez um dia eu escreva sobre todos esses que não foram só os que marcaram, mas também mudaram, de uma certa forma, minha vida.

Ainda quero ver, Tom Waits, Rumpilezz, PJ Harvey, Leonard Cohen, João Bosco, Burning Spear, The Fall, Roberto Carlos...

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Não é mais um texto sobre a atual situação do Rio de Janeiro



Entrou no táxi. O motorista pergunta:

- O senhor é do tempo da fita cassete, não é?

- A fita cassete é do meu tempo.

- O senhor vê, no caso, antigamente não tinha pirataria. Por que? Como é que o cara vai copiar um disco? Ele vai precisa fabricar o vinil, concorda?

- Mas existe muito disco de vinil pirata.

- Eu sei. Mas hoje em dia o camarada pode ter a música que quiser. É só baixar da internet e botar pra tocar em qualquer lugar. E antes disso, como é que fazia?

- Era complicado.

- Fita cassete.

- Ah, é.

- Tinha aquelas de noventa minutos, tinha cromada...diziam que o som ficava melhor, mas a verdade é que muitas vezes, só tocava bem no aparelho que você gravou a fita, ou seja, na sua casa.

- Realmente, a qualidade da gravação ficava bem pior no "som" dos outros. Já fui a muitas festas de fita.

- Lembro que eu passava o dia inteiro preparando uma fita pra tocar na festa. Na segunda música, sempre tinha alguém pra parar, trocar e colocar outra coisa no lugar nada a ver.

- That's life.

- Eu gostava, sempre gostei, fui criado com funk. Não esse funk aí...do morro...Mas com Tim Maia, Cassiano, Jacksons Five, James Brown, Marvin Gaye, Stevie Wonder...

- Sly and the Family Stone...

- É. Esses aí também. É o que eu digo pro meu filho: A tv antigamente era em preto e branco. Ele não acredita. Daí eu tiro todas as cores pra mostrar pra ele como era. Sabe o que ele diz?

- O que?

- Pai, o senhor inventa cada uma.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Sobre o Riso



- Então você trabalha para um programa de humor.

- Trabalho sim.

- Que tipo de trabalho faz por lá?

- Eu escrevo.

- Escreve o que?

- As piadas.

- Suponho que o programa deve ser engraçado.

- Quando as piadas são engraçadas, o programa fica engraçado. É incrível essa equação.

- E como você sabe que uma piada é realmente engraçada?

- Ah, sim...eu suponho dessa maneira: Quando alguém ri da piada.

- Digamos que você acabou de inventar uma piada e não tem pra quem contar.

- Quando mencionei "alguém", também me inclui nessa.

- Você tem que rir primeiro?

- Existem coisas que eu faço ainda mais estranhas que isso, pode acreditar.

- Mas vamos supor que você está no meio do mato, sem nada.

- Nada? Nem roupa?

- Não. De roupa você pode ficar.

- Ok. Então estou em um mato...sem nada...nem cachorro?

- Isso. Sem comunicação externa.

- Nem uma bússola?

- Depende. Você saberia usar?

- Não deve ser difícil. Não é só apontar pro norte e escolher a direção?

- E se a agulha estivesse quebrada?

- Eu me orientaria pelo...rio? Tem algum rio perto?

- Hmmm...tem.

- Aliás, estou no mato...é dia ou noite?

- Dia, vai.

- Só mais uma pergunta...Estou ali há semanas, meses?

- O suficiente pra começar a perder o controle.

- Certo. Sobre que assunto mesmo?

- Você está perdido no meio do mato. Não consegue encontrar seus amigos de trilha, você anda em círculos por horas e está bem estressado, não consegue achar graça em muita coisa e mesmo com todos esses infortúnios, subitamente, uma piada surge na sua cabeça! Você faz o que?

- Isso não é o roteiro da Bruxa de Blair?

- O que eu quero dizer é que...mesmo que você não ache graça da piada, outra pessoa pode achar.

- Meu principal objetivo na vida é espalhar piadas ruins e depois por a culpa no Jô.

- Acho que pra contar piadas, você não precisa ser engraçado.

- É verdade. Já com a piada acontece o contrário.

- Digo isso porque no bairro onde passei a infância, tinha um vizinho que era engraçado, mas não sabia contar piadas.

- Sei. E ele era bom em que? Botar apelidos?

- Não. Ele era fisionomicamente engraçado.

- Eu não acho graça disso.

- Aí é que tá! Ele fazia graça de si mesmo!

- O nome dele era John Merrick?

- Ele parecia um pássaro.

- HAHAHAHAHAHA! Como assim parecia um pássaro? Por acaso ele nasceu de um ovo??? Ele foi chocado?? HAHAHAHA!

- Ele era baixo, tinha um nariz enorme, era gordinho e de pernas longas e finas.

- Agora EU fiquei chocado. E...Oi? Ah, pernas! Entendi penas!

- Eu não achava nada confortável ou engraçado morar perto desse cara. Mas ele se tornou uma atração do lugar.

- E o que ele fazia de tão engraçado? Ciscava?

- Não. Ele subia em uma árvore e de lá ficava...assobiando: "bem-te-vi...bem-te-vi..."

- Tem certeza que isso não é uma lenda urbana? Alguém contou isso na sua mais tenra infância e você acreditou.

- Não. Eu cheguei a ver o sujeito.

- Sei. Num circo? E em que poleiro ele vive hoje?

- Não tenho ideia. Me disseram que ele migrou pro sul.

- Pois é como dizem...A ordem das árvores não altera o passarinho.

- Isso foi uma piada?

- Não. É uma letra de música. Mas, essa história me lembra uma piada antiga.

- Conta.

- Um bêbado entra em um velório e vê uma mulher chorando sobre o caixão e repetindo: "Morreu como um passarinho...Morreu como um passarinho..." O bêbado se afasta, sai pra fumar um cigarro e é interpelado por um homem que pergunta: "Aí, sabe o que foi que matou esse aí?" E o bêbado: "Pelo visto...foi estilingada!"

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Arte



Segundo tudo indica, o artista age como um ser mediúnico que, num labirinto fora do tempo e do espaço, procura o caminho que o conduzirá a uma clareira.

Sei que aqui o que digo não é aprovado por muitos artistas, que recusam o papel mediúnico e insistem na participação da consciência no ato criativo; contudo, a história da arte tem identificado com coerência as virtudes de uma obra artística por meio de considerações completamente divorciadas das explicações racionalizadas do artista.

A idéia que faço de arte é a de que tanto ela pode ser ruim, como boa, como indiferente, mas de qualquer modo continua sendo arte, da mesma maneira que uma emoção por ser ruim, não deixa de ser uma emoção.

No ato criativo, o artista passa da intenção para a realização por meio de uma cadeia de reações totalmente subjetivas. Sua luta para chegar a realização é feita de trabalhos, sofrimentos, satisfações, recusas, decisões que não podem e não devem ser plenamente conscientes, pelo menos no plano estético.

O resultado dessa luta é uma diferença entre a intenção e a realização, uma diferença da qual o artista não tem consciência.

Afinal de contas, o ato criativo não é executado pelo artista sozinho; o espectador põe a obra em contato com o mundo externo ao decifrar e interpretar seus atributos internos, contribuindo dessa maneira, para o ato criativo. Isso ainda fica mais evidente quando a posteridade dá seu veredito final e algumas vezes reabilita artistas esquecidos.

"O Ato Criativo", por Marcel Duchamp

terça-feira, 14 de setembro de 2010

A Estrela



Enfurecido com Prometeu, que tentava conceder mais poder aos mortais dando-lhes o fogo, Zeus estava determinado a se vingar. Encarregou Hefesto de produzir a mais bela criatura sobre a Terra, e convocou um conselho de deuses para que cada um pudesse oferecer um presente especial a ela. Como cada um dos deuses lhe deu poderes especiais, a nova criatura foi nomeada "Pandora" ("A que possui muitos dons"), e enviada ao mundo com a caixa que Zeus havia lhe dado, recomendando que ela nunca fosse aberta. Vencida pela curiosidade, Pandora abriu a caixa e libertou todos os males da humanidade, mas fechou antes que a esperança - único dom da caixa - pudesse sair.

Fonte: "Guia Visual da Mitologia no Mundo" - National Geographic

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Filosofia de Botequim - Parte III (Pós-debate eleitoral)



LEIBINIZ - Parei de fumar. Cigarro me dá dor de cabeça.

HEGEL - Aham. O cigarro, sei...Essa quantidade toda de cerveja não, né?

BERTRAND RUSSEL - Olha a patrulha...

SCHOPENHAUER - Patrulha? Ih, vou dichavar ali no canto.

KANT - Chamou? Eu aperto.

SCHOPENHAUER - Pouco se falou sobre isso no debate.

HEGEL - Não foi preciso, o debate já foi uma droga.

SCHOPENHAUER - E ainda terminou com choro e poesia...quem curte?

KARL MARX - "Vou chorar...desculpe mas eu vou chorar..."

LEIBINIZ - A solução é acabar com os poetas!

HEGEL - O senhor é candidato?

LEIBINIZ - Este é o meu olhar sério pra você.

NIETZSCHE - Como o homem será ultrapassado?

SCHOPENHAUER - Tá falando do Lula ou do Felipe Massa?

KANT - Mérmão, o negócio é o seguinte: É impossível agradar a pretos e troianos.

BERTRAND RUSSEL - Oi?

NIETZSCHE - Ô, Kant, segura esse pensamento aí que depois eu vou explicar todos os erros dessa sua colocação.

KARL MARX - "Nada vai me fazer desistir do amor..."

BERTRAND RUSSEL - Alguém tira o Marx do Karaokê, por favor?

HEGEL - Eu gostaria de ver uma muié no poder.

LEIBINIZ - Um minuto para a réplica!

SCHOPENHAUER - Um homem sem mulher é como uma lagartixa sem parede.

KANT - Se quiser tirar de mim arguma coisa de bão, que me tire o trabaio. A muié não!

KARL MARX - "Ai meu Deus! Ai meu Deus o que é que há? A nega lá de casa não quer trabalhar...se a panela tá suja ela não quer lavar..."

HEGEL - You said..."Deus", dude.

BERTRAND RUSSEL - Marx, seu tempo acabou!

HEGEL - Todo o poder para Larissa Riquelme! Essa pode muito!

BERTRAND RUSSEL - E tem peito pra isso!

NIETZSCHE - Vai peitar o Ahmadinejad!

LEIBINIZ - Esta moça achou um lugar interessante para se guardar um celular.

SCHOPENHAUER - Não dizem que em política é importante encontrar o caminho do meio? Foi o que ela fez.

KANT - Exatamente. Foi no ônfalo da questão!

NIETZSCHE - Se a réplica é assim, imagina a tréplica!

HEGEL - Ela só faz estimular ainda mais o debate!

KARL MARX -"Meu coração tem mania de amor...Amor não é fácil de achar...a marca dos meus desenganos ficou, ficou...só um amor pode apagar...porém..."

TODOS - AH, PORÉM!!!

terça-feira, 27 de julho de 2010

10 Sinais de que você está jogando Xadrez demais

10 - Você pensa em pintar quadrados pretos e brancos no chão da sala.

9 - Cada partida que você joga contra o computador é uma questão pessoal.

8 - Você começa a pensar que "Xeque-Mate" pode ser um bom epitáfio.

7 - Você só ouve artistas da Chess Records.

6- Você pensa em manchetes para o Meia Hora : "Peão Come Dama Pendurada no Cavalo!"

5 - Você sente que está sedentário e hiperativo ao mesmo tempo.

4 - Você pensa em sair fantasiado de Deep Blue no carnaval.

3 - Você acha Kasparov é melhor que Pelé.

2 - No final das contas, você se fode pra salvar a Dama.

1 - É muito melhor sacanear o Rei em época de eleição.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Transcrição de conversa entre-ouvida no metrô com intertítulos ou "A hora do Rush"

Vagão do Metrô sentido Zona Sul quase lotado.
Ele - Alto, branco, magro, rosto cheio de espinhas. Camisa preta, calça jeans e tênis.
Ela - Um pouco mais baixa que ele, morena, magra, cabelos longos, rosto bonito. Camiseta, calça jeans e sandália.
Ambos com 17 pra 18 anos, por aí.

Ela - Não acredito que você não vai.

Ele - Tá muito caro.

Ela - Tô tentando convencer meu pai, mas ele só conhece "Tom Sawyer". Ele não vai querer ir num show por causa de uma música.

Ele - Eu não vou pagar 500 reais pra ver Rush.

Ela - Nem do "Fly By Night" você gosta?

Ele - Não. Nem do primeiro, nem do "Moving Pictures"...nem do... sei lá...não gosto de nada deles. Acho brega.

Ela - Outro dia eu vi um vídeo sem noção deles. Tipo: Instrumentos brancos! Baixo, guitarra, bateria...piano branco! Ninguém merece.

Ele - Nunca vi.

(Nem eu.)

Ele - Mas era clip de qual música?

(Boa pergunta)

Ela - Não lembro.

(Boa resposta)

Ela - Você não gosta de Rush, mas gosta de Jethro Tull. Os clipes deles são muito mais bregas que os do Rush.

(Oi?)

Ele - Eu gosto da banda, não gosto dos clipes.

(Ah!)

Ela - O clipe de "She Said She Was a Dancer" é muito brega, mas tem umas paisagens maneiras.

(Onde é que ela quer chegar?)

Ele - Jethro Tull é bom ao vivo.

(Ok)

Ela - Você precisa ouvir "Waglhbluaf..."

(Incompreensível. Será que ela quis dizer Van Der Graf Generator?)

Ele - É prog?

(Se liga aí, mermão!)

Ela - É mais pra rock. Mas pra você que curte Grateful Dead , acho que é a sua cara.

(Fuckin'Dead Head dos infernos!)

Ele - Hmmm. Vou procurar. De que ano é essa banda?

Ela - Ah, 72, eu acho. Quando eu não sei de que ano é a banda ou a música, digo logo que é de 72. Tudo que foi feito em 72 tem grandes chances de ser coisa boa.

(Essa menina sabe das coisas.)

Ela - Fala a verdade, você não gosta mesmo do "Piper at the gates of dawn"do Pink Floyd ?

(Bitch.)

Ele - Não.

(Ih...Vai voltar pra casa sozinho! haha.)

Ela - Você prefere o "Atom Heart Mother"!! Tudo bem, tirando "if" que é um musicão...

Ele - E aquela que tem 23 minutos...musicão também!

(Não é hora de piadinhas, Mané!)

Ele - Tudo bem que ela poderia ter só 10 minutos e ainda seria um musicão.

Ela - Hahaha....

(Aê, garoto!)

Ela - Eu gosto do "Umagumma". Quer dizer, só das instrumentais.

(Sei)

Ele - Posso falar uma coisa?

Ela - Pode.

Pausa.

(Vai !! Fala!!! Fala, porra!!)

Ele - O melhor disco do Pink Floyd é o Final Cut.

(WTF!!!)

Ela - Fala sério. Tá louco?

(Tá!)

Ele - Tô falando sério.

(Nerd)

Ela - Ainda bem que a gente só tá indo no cinema. Senão ia ter problema.

(..."E quem um dia irá dizer que não existe razão nas coisas feitas pelo coração"...Estação ArcoVerde. Fui!)

terça-feira, 13 de julho de 2010

Todo mundo quer amor de verdade



Acabou a Copa e já é possível falar de outro assunto. Mas este assunto que todo mundo está falando, ninguém aguenta mais falar. Falo por mim.

É o caso do goleiro. E, neste caso, aproveito o mote levantado por Xico Sá em "Chabadabadá - Aventuras e desventuras do macho perdido e da fêmea que se acha" para dizer que esses caras que cometeram tal atrocidade não gostam de mulher.

Sem querer insinuar que a situação ente Bruno e Maka (amor verdadeiro) levou ao crime passional, mas para eles, mulher é coisa. Assim como a Ferrari, a champanhota e a carreira. Não a futebolística, a outra. Money Talks.

Misoginia pura e aplicada. Uma distorção, uma deturpação do "macho jurubeba, do macho a válvulas, do macho a carvão."

Elas gostam é de carinho, amigo. Carinho, atenção, sinceridade e umas flores de vez em quando.

"De cordão de elite, 18 quilate, põe no pulso, logo brait / que tal, tá bom? / de lupa,mochilão, bombeta branca e vinho/champanhe para o ar para abrir nossos caminhos..." Será que nem com o recado de adolescente juvenil dos Racionais, os caras se ligam, mano? Ou tudo já nasceu vida loka?

E se o assunto é pensão, família...vixe! Pra que? Se eu nunca tive isso? Mais fácil matar e concretar o caso. Não basta abafar, tem que concretar.

O ponto é que nem o mais macho por mais macho a carvão que seja, faria uma atrocidade dessas com uma mulher.

Nem o mais doidão dos doidões. Nem durante a mais orgiástica das orgias Led Zepelinianas ou Rollling Stonianas se fez besteira igual. Portanto, não culpem o meio. E sim quem tá no meio do meio de quem.

Temos também exemplares nacionais do macho jurubeba como Manuel Bandeira e Jaime Ovalle que "conseguia ver beleza até nas mais feias". Dupla de ampla penetração na Lapa e nas moças de fino trato, onde transbordam histórias de noites e noites de diversão regadas a rapé e um poemeto aqui e outro poemeto ali em homenagem as meninas.

Para Bandeira e Ovalle, as muié significavam diversão, paixão, sexo, companhia. Ripa na chulipa e não me amarra dinheiro não, mas formosura.

Mas parece que desde tempos imemoriais que a mulher só pode ter duas classificações na sociedade: Puta ou Santa. Não tem meio tom?

"Traiçoeira e vulgar / Sou sem nome e sem lar / Sou aquela / Eu sou filha da rua / Eu sou cria da sua costela..."

"Quem nunca saiu no tapa com alguma mulher?" Declaração infeliz, garotão. Cadê o Ministério Público nessas horas?

Em mulher não se bate nem com uma flor, campeão. Trate-as bem, ou vá dar tratos à bola. Melhor uma chuva de pétalas, mensagens, afagos. Aliás, isso não só pra muié, mas para o ser humano de uma forma geral, né bitchô?

" Sou perfeita porque / igualzinha a você / eu não presto, eu não presto..."

Pisou na bola? Bota o galho dentro. Suma ou assuma.

Entenda, compreenda ou deixa a menina sambar em paz.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Filosofia de Botequim - II



SCHOPENHAUER - Ruinzinho esse time da Holanda, né?

HEGEL - Parabéns pra você "Iniesta" data querida...

KIERKEGAARD - O De Jong não sabe nada de Jongo.

LEIBINIZ - Cada time tem o Felipe Melo que merece.

BERTRAND RUSSEL - Quem ganhou o bolão, afinal?

KARL MARX - O Polvo! Tá batendo um bolão com esse arroz de brócolis. Nham!

NIETZSCHE - O polvo é um animal simpático demais para que o homem dependa dele.

BERTRAND RUSSEL - Acabou o futebol.

SCHOPENHAUER - Acabou o milho, acabou a pipoca.

KIERKEGAARD - Acabou o futebol como era jogado antigamente, você quis dizer.

HEGEL - Ninguém entra duas vezes no mesmo estádio.

LEIBINIZ - Nem chuta a mesma Jabulani duas vezes.

SCHOPENHAUER - Só o Dunga que jogou sozinho.

NIETZSCHE - A Copa de um homem só.

BERTRAND RUSSEL - Jogou sozinho e mal acompanhado.

NIETZSCHE - O Puyol não é a cara do Peter Framptom?

KIERKEGAARD - Ouvi uma vuvuzela com delay.

LEIBINIZ - Vuvuzela Sound System!

KARL MARX - Esse arroz de polvo faz ateu comer rezando! Nham!

BERTRAND RUSSEL - Sem olhar no dicionário. O que quer dizer "impedimento"?

LEIBINIZ - E "Cf4"?

HEGEL - Você e o Shopenhauer vão ficar jogando xadrez até quando?

SCHOPENHAUER - Se minhas loucuras tivessem explicações, não seriam loucuras.

NIETZSCHE - Essa frase é minha, porra!

LEIBINIZ - Gambito do Rei.

SCHOPENHAUER - Free Morgan Freeman!!

BERTRAND RUSSEL - Percebi uma coisa... O que o Silvio Santos tem de óbvio, o Faustão tem de barroco.

HEGEL - A França não saiu nada à francesa desse mundial.

KANT - O Dunga podia interpretar o papel de Larry David no cinema em "Curb Your Enthusiasm - The movie"

LEIBINIZ - Putz, nada a ver.

KANT - Por isso que eu tô calado.

HEGEL - E pelo menos a Espanha não ganhou essa Copa no "Tapas".

KARL MARX - Passa manteiga de garrafa, por favor?

HEGEL - Uma coisa tem que ficar clara de uma vez por todas! Futebol não é caso de polícia!

KIERKEGAARD - Mas o problema não é do futebol e sim do jogador.

NIETZSCHE - Se o macho está perdido, não sou eu que vou procurá-lo.

KIERKEGAARD - Essa frase é tua?

NIETZSCHE - Não. É do Marçal Aquino, segundo Xico Sá.

LEIBINIZ - Oi?

SHOPENHAUER - Xeque-mate.

LEIBINIZ - Mais uma partidinha?

KANT - Opa! Tô na de fora.

KARL MARX - Ô, garçon! Traz mais duas ampolas, soma tudo e faz uma pindureta aí pra gente.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Copas


a bola e a cidade rolando rio abaixo rolando nos campos rolando ribanceira devorando árvores pensamentos seguindo a linha derrubando homens entre outros animais no corre da babilônia na corredeira da correnteza do rio vai levando aquela dor e perdeu-se tudo na lama da lama ao caos do caos a lama a cidade só cresce

perdeu-se uma biblioteca deus me livre de perder a minha deus me livre de perder a linha da vida na linha da palma da mão espalmada na linha do gol de quem para quem quer se soltar

um cansaço uma ressaca e tudo de bom parece que agora vai e vc, hein? engrenei mesmo na ginástica futebol dá um ânimo novo na gente ou pelo menos era pra dar bom resultado

desde que saí de casa trouxe a viagem da volta gravada na minha mão enterrada no umbigo versos de Torquato que leio no quarto crescente

saio não volto saio e volto encontro mais alguém esse alguém me diz como vai tudo bem quando vem me ver quando vem aqui quando vou aí quando vamos assistir o jogo juntos quando vai ser afinal quando vai ser a final quando menos se espera

Oxalá se Deus quiser vamos ganhar vamos ganhar a porra toda as eleições vamos ganhar o mundial vamos faturar um milhão mais uma vez tudo para tudo o mais pura rotina

já não sei mais que jogo é esse quem disputa o que interessa é isso a cidade em clima de final de ano não consegui nem tomar um café uma empada sequer mas aquela taça em cima da mesa na beira do campo é nossa viu nego devia ter Copa todo ano

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Filosofia de Botequim



HEGEL - Não tenho fissura por futebol, mas gosto de Copa do Mundo. Se passa um joguinho na TV, qualquer evento pode esperar pelo menos quarenta e cinco minutos.

KANT - Comigo acontece a mesma coisa. Até pra saber de algum lance do jogo que nem a ciência nem a metafísica podem explicar, eu consulto primeiro o travesseiro.

KIERKEGAARD - Olha, que a Jabulani tem feitiço todo mundo já sabe. Mas a religião é uma questão pessoal.

HEIDEGGER - É. Tem uma força ali, um abracadabra que ninguém sabe o que é. Mas talvez eu esteja me deixando influenciar por você, Kiki.

KARL MARX - Póóóóóóóóóóón!!!

SCHOPENHAUER - Para de tocar essa porra, Marx!

HEGEL - É que pra ele, a Vuvuzela é o ópio do povo.

LEIBINIZ - Mais um chope Shopenhauer?

SCHOPENHAUER - Mais um trocadilho escroto e eu vou embora, hein!

BERTRAND RUSSEL - A Jabulani é a estrela da competição. Não por acaso ela vem tirando o brilho de outras estrelas...

KANT - Como a da tua Inglaterra!!

BERTRAND RUSSEL - Até que pra quem diz que não acompanha futebol, você está por dentro.

KANT - Fico intrigado com o que está em jogo. Mas ainda acho que esse time da Alemanha não é essa coca-cola toda não.

KARL MARX - Póóóóóóóóóóón!!!

SCHOPENHAUER - Vai te pra puta que o pariu, vai?

KIERKEGAARD - Ô, Nietzsche!

LEIBINIZ - - Benegrip!

SCHOPENHAUER - Suspende a caipirinha do Leibiniz!

NIETZSCHE- O Dunga é o homem ressentido de que tanto falei. Essa quizila com a imprensa, essa borrasca, esse humor acre...

BERTRAND RUSSEL - Ele está isolado. Devia tirar o cadeado da concentração e por na própria boca.

NIETZSCHE - Este descompasso, essa filosofia de lagartixa não tem o menor sentido a essa altura do campeonato.

SCHOPENHAUER - É preciso ser branco e preto ao mesmo tempo.

LEIBINIZ - Principalmente na África do Sul.

SCHOPENHAUER - Vai Marx, sopra essa porra no ouvido dele, vai!

KARL MARX - Póóóóóóóóóón!!

NIETZSCHE - Esta Maçonaria do futebol, esta mistificação, este selo de segredo que a própria imprensa cria e que depois se volta contra ela mesma, tende apenas para duas coisas que não servem pra nada: lamento e indignação.

BERTRAND RUSSEL - Ingrata é a tarefa dos jornalistas de marcar, individualizar, exemplificar e tornar tudo ao mesmo tempo cosmopolita.

KIERKEGAARD - - Isto sem falar no esoterismo, na mandinga e na catimba. Principalmente pra cima dos argentinos.

KARL MARX - Póóóóóóóóóón!!

NIETZSCHE - O verdadeiro homem quer duas coisas: perigo e jogo.

LEIBINIZ - Mas o jogo perigoso é proibido pela Fifa.

SCHOPENHAUER -Quero saber o seguinte: Quem tá na frente do bolão?

TODOS - Caralho!!! O Marx !!!

KARL MARX - Éééééé...Jabulaaaaani.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Avenida Nossa Senhora



tomar vacina pra sentir alguma coisa nessa vida

uma emoção boa ou ruim não deixa de ser uma emoção

moro no começo parece o final da rua mas é bem onde começa assim feito a vida

aí jovem de Copacabana o que é que você sente quando chupa as pastilhas de Ankara e os drops de Istambul?

posso listar dez coisas estranhas ouvidas na fila do posto de saúde mas agora não

chegou o inverno sobretudo

eu quero o rap de anne stark

ontem Louise Bourgeois hoje Kazuo Ohno e o Keith Richards continua aí rock and roll é isso

sob os efeitos narcóticos pós-vacina

eu ando pelo mundo...

vejo vitrines vejo butiques

às vezes esqueço até de respirar nos braços de Copacabana

encontrei amigos o que me fez pensar que ainda existem muitos encontros nessa vida e que a distância não é nada

como era mesmo aquela música do Roberto?

A Distância? é triste pra caralho

cantae

o hamlet contemporâneo não segura a caveirinha não

canta, vai

"Nunca mais você ouviu falar de mim..."

lembrei chega

"Quantas vezes eu pensei voltar e dizer que o meu amor nada mudou mas o meu silêncio foi maior e na distância..."

ou! próximo tópico

meus pais ouviam muito por isso q sei de cor

ae essa vacina dá uma zoada hein mano

terça-feira, 1 de junho de 2010

3 poemas de Crisântemo de Aguiar, o último poeta ultra romântico



na praia

andei na areia
andei até a beira do mar
andei até te encontrar
iemanjá
minha mãe
minha voz
meu riso
minhas faltas
mãe solar
não tem quando

-----------------

in english

and what if maybe, just maybe...
we are all fucked up?

------------------

língua do pê

- prudente preferir pressa?
- prosear prosperar prosseguir
- preparar presepada
- prever preocupação
- praticar prazer predileto
pausa
- pensar passado
- palhaço
- perplexo, pequena
- prego, pentelho, pueril!
- parei, palavra
- parabéns parceiro
- pânico paira
- pirou, pamonha?
- pura papagaiada
- petisca, peste!
- preguiça
- pilantra
- pomba, pururuca!
- protuberância polpuda
- pera
- põe putaria?
- profana
- perdeu, playboy

domingo, 23 de maio de 2010

Shinto



Quando nos desalenta o infortúnio,
por instantes nos salvam
as aventuras ínfimas
da atenção ou da memória:
o sabor de uma fruta, o sabor da água,
esse rosto que um sonho nos devolve,
os jasmins inaugurais de novembro,
o anseio infinito de uma bússola,
o livro que julgávamos perdido,
o pulso de um hexâmetro,
a breve chave que nos abre uma casa,
o aroma da biblioteca ou do sândalo,
aquele antigo nome de uma rua,
as cores de um mapa,
uma etimologia imprevista,
a lisura da unha lixada,
a data que buscávamos,
contar as doze escuras badaladas,
uma brusca dor física.

Oito milhões são as divindades do Shinto
que viajam pela terra, secretas.
Esses modestos numes só nos tocam,
tocam-nos e nos deixam.

Jorge Luis Borges - "A Cifra" - 1981

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Haja Visto



Se você pretende..."saber quem eu sou..." quer dizer, se você pretende tirar um visto para os EUA, planeje com antecedência. Não faça como eu que deixa tudo para a última hora. E quando falo isso, não estou de brincadeira, é a última hora mesmo. Cheguei no consulado às nove da manhã e a minha entrevista estava marcada para às nove e meia. Dentro do horário, ok. A não ser pelo fato de que seria preciso sair da fila, ir até o Citibank e pagar uma taxa que faltava. Consultei um dos "Posso Ajudar?" que me ajudou e disse que eu poderia sair mas teria que voltar até às dez e meia. Ou teria que reagendar tudo de novo.

Aproveitei para tomar um café no Mega Mate ali perto e dar uma olhada na única barraca de CDs aberta na Pedro Lessa. O banco só abriria daqui a vinte minutos. Nenhuma novidade nos CDs. Só uma edição de "Sabotage" do Sabbath que me deixou bolado. Mas, não era o caso. Não poderia ali me sabotar e perder os primeiros lugares. Larguei o disco e parti para o banco onde uma fila de incautos já se formava.

Levei dois livros para suportar o tempo morto. Um de crônicas do David Sedaris e um do Greil Marcus sobre o Bob Dylan. É uma bobagem, mas só pra constar, isso passou pela minha cabeça, mesmo: Pensei que seria meio "tirar uma ondinha" ler "Like a Rolling Stone - Bob Dylan na Encruzilhada." dentro do Consulado dos EUA, por isso decidi levar também a opção "Sedaris", como sempre uma ótima companhia. Grunfff...onde é que eu tava? Ah, sim...

Cinco minutos para abrir o banco, o segurança pede para que a fila chegue um pouco mais para trás, pois já aconteceu de ladrões renderem funcionários que estavam chegando para trabalhar. "Ele tá insinuando que tem ladrão nessa fila?" Alguém perguntou. "Ele tá aí pra proteger quem? Nós, os funcionários ou o banco?" Não sei, minha senhora, mas dá pra desencostar do meu pescoço?, pensei.

O banco finalmente abre as portas e mesmo em fila, somos obrigados a pegar uma senha. A minha era de número 07. Quando fui atendido, a moça do caixa me informa que o valor a ser pago mudou de 150,00 para 237,40! Putz. Ok, beleza.

Atravesso correndo a Cinelândia e quase esbarro no chopp de alguém (isso lá é hora de alguém beber chopp? Tudo bem, muita gente deve tomar chopp a essa hora, ok. Beleza.) Saquei o restante e volto como um superacelerador de partículas. Eram 10h20. Cheguei no consulado às 10h27. Nova fila. Entrada. Raio X. A funcionária diz que eu devo desligar o celular e que o mesmo ficará com ela. Nova senha. Nova sala. Lotada. Desta vez, meu número era 231. Eles estavam chamando o 157. Mas até que a coisa parecia andar rápido.

Olhei em volta e vi uma mini-lanchonete dentro da sala. Foi nesse momento que entendi a frase de um garoto quando estava do lado de fora. "Tava crente que ia tomar um Seven Up ou uma Coca importada, mas lá dentro só tem joelho e Guaravitão." Tracei uma estratégia rápida se acontecesse alguma coisa que deixasse todos nós presos ali. Tomar uma arma de um dos seguranças e me apossar dos joelhos e dos "Guaravitão".

Depois de algum tempo, pensei em ensaiar algum tipo de protesto. Gritar: "Nicarágua! Capital Manágua!" ou "Revolution, Motherfuckers!" ou ainda "Make my funk a P funk!" ou por outra..."Hey, Ho! Let´s go!" Mas o que vinha mesmo na minha cabeça era subir no balcão e cantar "More than a Feeling" do Boston. Que bosta.

Opa! Meu número! Nova sala. Nova fila. A entrevista foi rápida:
- O senhor já esteve nos eua?
- Já. Em...
- O senhor trabalha com que?
- Sou roteirista de...
- O senhor conhece outros países?
- Conheço a Holan...
- O senhor vai viajar com mais alguém?
- Vou s...ó.
- O visto foi concedido, senhor.

Veio um ímpeto de "Yes" com soquinho no ar...

- Antes de sair, o senhor deve pagar essa taxa de 17,00.

E me contive.

Na fila para pagar a tal da taxa, um homem cutuca o meu ombro:

- Mais uma fila, hein companheiro?

- Oi?

- Você não lembra, mas eu também estava lá no Citibank e também tive que correr atrás de mais dinheiro para completar a taxa. Eu não sabia que tinha aumentado o valor.

- Ah...Mas até que foi tranquilo. Fui até a Senador Dantas.

- Eu fui até a rua México.

- Hmmm...(Foda-se, pensei.) E conseguiu, né?

- Sim.

Depois de um tempo em silêncio, ele continua...

- Mês que vem estou indo viajar pra lá para um encontro de ex-alunos. Me formei por lá.

Comecei a imaginar como seria essa festa e onde seria "Lá". Mas o sujeito foi mais rápido.

- Vai ser um monte de coroa de cabeça branca dançando os sucessos dos anos 70.

- Sério? Ah, então "More than a Feeling" não pode faltar, não é verdade?!

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Stand Up Tragedy

- A Islândia é um país remoto. Definitivamente.

- Um amigo tomou a vacina anti-gripe. E gripou.

- Um quarto do ano já se foi e metade do uísque também.

- O Twitter atingiu a marca de 100 milhões de usuários. Vida que segue.

- Eu leio pensamentos. E de vez em quando eu retuito.

- Vi um camelô vendendo "Avatar" em 4D.

- Que semana...Até o Redentor picharam pra Cristo.

- Achar um político honesto é tão difícil quanto achar um ex-bbb que não goste de publicidade.

- Nos festivais de Forró Universitário um dos ritmos mais executados é o trote.

- Deixa eu ver se entendi quem morreu...Lady Gaga?

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Nossa casa, Nossas Coisas, Nossas Vidas, Nossos Planos

CENA 1
O acesso que já era difícil, tornou-se quase impossível. Agora seria preciso escalar um monte de terra, lama, pedras e ainda enfrentar a chuva, os curiosos e os repórteres.

CORTA PARA

CENA 2
Em um outro ponto da cidade, pai e filho exercitam-se em uma moderna academia de ginástica. Andar lado a lado em uma esteira depois das últimas notícias parecia o único exercício possível e insuspeito.

CORTA

CENA 3
Em algum ponto durante o entardecer ele ficou sabendo da tragédia. O morro onde foi criado desabou com a última tempestade. Correu até lá para saber o que sobrou do pouco que restava. Lembrou do tempo em que ouvia as notícias pelo rádio com o pai. Os dois encurvados sobre a crise mundial do petróleo, a morte de Elvis e o Brasil Tri-Campeão. Coisas que impulsionavam a imaginação de um adolescente que por sorte sobreviveu a infância em uma vizinhança nada pacífica.

CORTA

CENA 4
Depois da sauna e do banho, pai e filho acompanhados dos respectivos seguranças encaminham-se para o estacionamento. A chave do carro está nas mãos do filho que ainda não possui habilitação. "Uma contravenção a mais uma a menos, qual é a diferença?" alguém comentou durante o trajeto. O que preocupava era a notícia de uma emboscada. De que tipo? Tiros, certamente. Logo, pai no carona. Um segurança de cada lado do carro. Chega a informação via celular que um dos depósitos de caça-níquel foi soterrado em mais um deslizamento de terra provocado pela chuva. O pai pensou que o prejuízo seria grande, mas pelo menos foi um desastre natural, uma fatalidade e não uma daquelas situações em que é preciso organizar um acerto com grana, um churrasco e às vezes até uma suruba pra esfriar a cabeça de alguns delegados e juízes.

CENA 5
Repórter local pergunta: "Você perdeu quem?" Ele não responde. Não teve tempo de refletir sobre a natureza das coisas. Embaixo daquele monte de terra, lixo e entulho jazia o passado dele e da cidade dominada por imbecis perversos que nós elegemos, pensou rápido.

CORTA

CENA 6
O filho gira a chave e o carro explode.

CORTA

CENA 7
Repórter local pergunta: "Você perdeu quem?" "Não é fácil aceitar uma coisa dessa, perdi o meu amor." respondeu sem olhar para as câmeras.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Para Ler Em Voz Alta - I

tudo já foi feito
tudo já foi dito
e sentir é infinito
fico besta

*

CHUVA NO RIO
incapaz
cidade

*

- vi um diário boiando na rua alagada
- agora todo dia é isso, nêgo

*

MUTRETA
soltar o verso
dançar o verbo
cantar a letra

*

De
Lírios
Perfumados

*

O QUE VEJO AGORA
livros pilhas de
sofá
computador tela de
papéis caneta telefone
revistas cinzeiro óculos
caderno em branco
TV desligada
janela
temporal

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Tempestade Brainstorm

Tempestade Brainstorm...Tempestade Brainstorm... Tempestade Brainstorm...o ar úmido de Copacabana anuncia...Tempestade Brainstorm...

- Mais um texto pra entrega...mais um livro pra ler...mais um almoço pra tirar do forno...

- Sem idéias, mas também sem grande dificuldades...escrever sobre (?)...

- Pode escolher : Superaceleramento de partículas; Superlotação das metrópoles; Superexposição na mídia; Superaquecimento da Terra
Superabundância de supereventos...Pfff...Tá tudo aí...e você? cadê? cadê você, meu chapa? Não adianta mais ficar com essa cara de menino-do-Colégio-Militar-atento-a-tudo...Tá aonde?

- Papéis contas cartas bilhetes fotos coisas projeto compromisso...

- Sei.

- Vamos tramar contra tudo e contra todos / Vamos transar essas transas todas / Vamos queimar todo esse barato pra ver que barato que dá

- Poema novo?

- O mundo anda mal mas não precisamos abandonar a poesia, não acha?

- Acho. Que tal...fumar um cigarrim?

- Olhei praquela página em branco aberta no computador e gelei...parecia uma piscina que iria mergulhar...meu corpo cansado...já se foi o tempo de escrever um texto em quarenta minutos...hoje a dormência atrás do pescoço e as terminações nervosas...braços e pernas como rios e seus afluentes desaguando na cama...as pálpebras tremendo de cansaço...até que uma palavra...um início de texto vem...Tempestade Brainstorm...

- Sei não.

- Queria mais calma...menos peso em cada palavra...menos o fluxo constante da televisão...menos a obrigação diária de um pensamento estupendo... mais perguntas... menos respostas...

- O que é que você sente quando lê o que sente?

- Sinto que estou em casa...nas palavras...dos outros...

Tempestade Brainstorm...Tempestade Brainstorm...o ar úmido de Copacabana anuncia...Tempestade Brainstorm...

terça-feira, 23 de março de 2010

Notícias de Paqui



Paqui é o Chimpanzé paquistanês mais inteligente do mundo que eu já conheci. Durante alguns anos trabalhamos juntos em seu fotolog (fotolog.com.br/paqui). Ele ditava as pautas, eu escolhia as imagens e vice-versa. Hoje, mesmo sem notícias seguras sobre seu paradeiro, nossa amizade e parceria não se perdeu na noite dos tempos.

Revirando o baú do Fotolog encontrei algumas cartas que ele me escreveu. Esta é de 2006, acho que a novela das oito era "Páginas da Vida", também era ano de guerra no Líbano, Copa, eleição, tsunami...

Oi, H.!

Tudo certo? E o meu Fotolog? Tem cuidado direitinho? Espero que, ao contrário do nosso governo, ele esteja bem. Não esqueça de fazer o upload daquela nova série de “correspondências” que eu lhe pedi. E desculpe começar assim com um pedido, já que não nos falamos há algum tempo. Uns vinte minutos, acho. Sei que não é nada demais, que é um trabalho que qualquer um pode fazer, mas foi você quem demonstrou uma compreensão maior sobre tudo o que eu faço. Tão maior que nem eu mesmo compreendo.

Não tenho acessado para ver como está, pois daqui é um tanto difícil. A conexão é ruim e a internet ainda é em preto e branco. Mas não se preocupe, vai dar tudo certo. O que eu posso lhe informar é que (como se você já não soubesse) tudo é muito estranho. É claro que nada mais estranho que o Diogo Vilela vestido de Cauby Peixoto, não é verdade? Mas uma coisa me incomoda mais que as outras: Aqui as pessoas não possuem o hábito de lanchar. Portanto, se você pretende algum dia vir me visitar, eu te aconselho a trazer pelo menos umas seiscentas gramas de mortadela, dez pãezinhos e um refrigerante dois litros pra gente não passar fome no fim de tarde. Ficarei eternamente agradecido.

Ontem eu tomei coragem e comecei a organizar meus arquivos. Pensei: Vou começar a empacotar as coisas antes que eu empacote. Acho que fiquei sentimental demais essa semana e tive saudades de você como tenho saudades de minha terra.

Já sei porque a nova novela das oito é uma pasmaceira. Falta bunda. Não tem bunda! Onde é que estão os crioulos? Quer dizer que negão no Leblão é sinônimo de ladrão? Até a filha da empregada é loira e peituda. Não tem um neguinho na trama. Ah, é! Tem os serviçais. Eles tem até voz! Até falam! Ah! Tem o filho da Sandra de Sá que tá quase cinza de tanta maquilage. Saquei. Quer dizer, saquei não. Deixa ver se eu saco...

Daí, diz que teve uma senhora de 69 anos que falou em orgasmo. Bem, até que pra idade dela, o assunto é bem sugestivo. Vou até aproveitar e mandar outras sugestões para o autor. Talvez fosse conveniente para ele buscar inspiração em outros temas como: Bondage, Podolatria, Gang Bang, Pompoarismo, Chuva Dourada e Massagem Prostática, ou seja, todas essas coisas que realmente interessam a família brasileira. Pelo menos à minha interessa.

Olha, eu confesso que já havia até me esquecido como é bom andar no centro da cidade. Tenho a sensação de que tudo ali está em funcionamento, que eu sou apenas mais uma peça dessa enorme engrenagem, que tudo afinal é apenas um jogo e que tudo isso pode ser apenas uma sensação, mas me faz um bem enorme. Gosto de visitar as livrarias, os bares e o PCdoB. Partido que agora estou filiado. Não me pergunte porque.

O que mais pode dar errado? O governo é uma decepção do cacete, perdemos a Copa como nunca perdemos antes, os candidatos a qualquer coisa não diferem muito dos candidatos a qualquer coisa da última vez em que tivemos que votar em algum candidato a qualquer coisa. Beirute não é mais sinônimo de sanduíche e até a Tsunami voltou. Tudo bem, daqui a pouco tem epidemia de dengue e arrastão. Essas coisas que a gente só vê em novela.

Bom, em uma coisa eu acredito: Você.

Drop your bombs between the minarets. Down the Casbah way. E a gente vai se acostumando com a guerra. Ela está em todos os lugares. Acostumar-se com ela é como olhar as vitrines das lojas sem ter a menor idéia do que ou porque está se olhando.

Eu lembro que uma vez você me disse que seu avô era Libanês, que você gostaria muito de visitar a terra onde ele nasceu pra imaginar quem você seria, se ele não tivesse saído de lá. Muito comovente. A gente passa a vida inteira a imaginar um lugar e acontece algo que transforma este lugar numa coisa que a gente nem imagina. Por exemplo, entrei num desses fast-food e a comida demorou horas para sair. Eu gostaria de processá-los por propaganda enganosa, mas meu advogado já me indicou uma nutricionista e tá tudo certo.

Um abraço inigualável,
Paqui.

Poeminha antigo...

O que o outono nos reserva?
Lua Branca
Uma valsa
Chuva rápida
Outra epidemia
Alguma dúvida
Tardes acesas
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fotolog.com.br/paqui em 24/03/08

sábado, 20 de março de 2010

Franz Ferdinand - Fundição Progresso - Rio de Janeiro (RJ) 19 de março



Taí uma banda que sempre tive curiosidade de ver ao vivo. Muita gente me contou e conta até hoje que o primeiro show deles por aqui foi perfeito e inesquecível. Sei até de gente que deixou de ir neste novo show para preservar e deixar intacta a memória daquela noite. Apesar de estranhar a lógica, eu entendo. Também já tive a mesma atitude e não fui na segunda vinda do Kraftwerk (já tinha ido na lendária apresentação no MAM com Massive Attack - desorientação total pós-tudo). Mesmo assim, ainda pensei seriamente em passar aquela noite ajoelhado no milho mas, felizmente, arrependimento não mata (não que eu saiba)...Pelo menos pude me redimir assistindo a terceira vinda deles e acrescente-se Radiohead para tornar tudo ainda mais antológico. Ufa! Contas acertadas com os "alemão", vamos a noite de ontem...

Franz Ferdinand é uma banda cheia de boas referências. Ecos de Duran Duran, Talking Heads (nas guitarrinhas shaka shaka), Wire, Pulp, U2 (utchú!), Bowie (teclados e lá-lá-lá-lo-lo-lo...) Mais ou menos tipo meio que os Strokes fizeram reprocessando Velvet / Television / Ramones / Stooges. "Ninguém se livra do passado." Já dizia Tom Zé.

Casa lotada. Tamanha adoração só vi em shows dos Racionais e dos Los Hermanos. Se bem que Racionais é rap e rap é outra história, a "evangelização" se dá de outra forma. Para se falar de rock é preciso falar de um outro tipo de atitude. Fãs de rock se comportam das mais variadas maneiras. Algumas bem esquisitas. Tem aquele tipo de fã que precisa dançar. E ele vai ocupar o espaço que for para realizar esse desejo. Esse tipo vai esbarrar em você e pedir desculpas (ou não) durante todo o show. Tem aquele outro que passa o show inteiro tentando encontrar o melhor lugar e vê o show de passagem (esse aí, na verdade gosta mesmo é de se roçar nos outros e não está lá muuito interessado no que está acontecendo no palco). Tem os que gostam de se espremer lá na frente e tem outros, como eu, que preferem encontrar uma "Zona de Conforto" e ficar ali "tocando" guitarra, baixo e bateria imaginários, acompanhando o ritmo com a cabeça. "Diboa?" ir a um show, qualquer show, é a mesma coisa que ir no teatro ou no cinema. Exige o mínimo de compostura, só que, às vezes, não tem lugar marcado e não necessariamente você precisa estar de olho no que está bem na sua frente. Muita gente não entende isso.

Acontece que ali eu devia ser o menos fã da banda. Isso não quer dizer que eu não goste das músicas, conhecia um ou outro hit. O disco novo ouvi uma ou duas vezes e não fixei muito. O fato é que em certos momentos me senti em um show dos Beatles sem ter a menor idéia de "quem são aqueles quatro rapazes?". Todas, praticamente todas as músicas são hits e entoadas em uníssono pela galera. Kapranos (Cá pra nós) e cia comandam a massa, sem forçar a barra, eles encontraram a mistura certa de fazer pose sem ser "poseur", bumbo e caixa discophunk (is the beat from tha hearts), sintetizadores, teclados e melodias que dissolvem na boca.

Em qualquer espetáculo, qualquer um, chega um momento em que uma pergunta sempre me vem à cabeça: "O que é que eu estou fazendo aqui?" Desta vez, aconteceu no momento em que o meu bioritmo se desconectou um pouco do show, fumando um cigarro mais fraco do que eu costumo fumar na varanda da Fundição. Olhar a Lapa. Há quanto tempo que frequento aquele lugar, há quanto tempo que aquilo existe (aquedutos, oi?) Devia pensar nos royalties do petróleo, devia pensar na instabilidade geopolítica que atravessamos, ou "e se aquilo fosse uma prova de resistência do bbb?" Eu devia pensar era em parar de fumar.

O público começou a sair lenta e gradualmente, apesar do aperto, sem maiores incidentes e eu ali, celular na mão, em busca de mais um sonho lúcido.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Micro-contos de Mistério e Investigação - 3



ROLETA DE PROSA

- Looking for a random stranger...

- Depois de vários dias de calor recorde no Rio de Janeiro, uma onda de frio deixa a cidade menos tensa. Ao menos é o que espero. Espero também que tudo se acalme.

- Um cigarro atrás do outro.

- O papo é o seguinte: voltar a escrever.

- Reflexões sobre o tempo...

- Era muito raio, muito raio mesmo...Tive que desligar o computador. Não tem essa coisa de queimar o equipamento pelo fio do telefone?

- Isso já aconteceu com você?

- Não. Mas conheço gente que o monitor explodiu na cara.

- Quem?

- X.

- Coitado. Eu gosto de tempestades. Não tenho medo nenhum. Acho lindo, confortante.

- É?

- Sim.

- Por acaso, a chuva, qualquer chuva, me lembra Manaus. Muito mais que o calor me faz lembrar. Lá eu tinha medo, medo da chuva, ao mesmo tempo achava fascinante. Aqui fico apreensivo.

- Cheguei pra trabalhar e o prédio tava sem luz. Mó galera na calçada esperando o elevador voltar a funcionar. "Não dá pra subir de escada não, irmãozinho...Tem que tirar foto de todo mundo antes e como tá tudo apagado, ninguém sobe." Estava em plena Avenida Presidente Vargas com uma entrega para fazer e um calor do cacete.

- We are time.

- We are Devo.

- Q cê tá ouvindo?

- Swell Maps. "Raining in my room". Voltei a baixar e ouvir música intensamente.

- Ânsia divina ânsia.

- Depois daquela festa que eu te falei que eu fui, a coisa ficou assim. Passo a madrugada inteira escutando...

- O que você está baixanso dessa vez?

- Só musicão.

- Tipo...

- Tudo de punk e pós-punk. Lendo Simon Reynolds e assistindo um doc do Don Letts sobre bandas punk joguei tudo no soulseek e veio.

- O que sente quando ouve música boa?

- Isso me deixa de cabelo em pé.

- Clichê.

- "Porque não transformar a mitologia de Alice Cooper de vampiros e monstros para brutalidade policial?"

- Essa frase é do Jello?

- É.

- Dead Kennedys é muito bom.

- Ele também diz que o grunge surgiu pra moçada parar de ouvir rap. Ninguém pode saber que existe gente que tá na merda de verdade. Uma coisa assim.

- Tudo faz parte de um grande plano das corporações.

- We are time.

- Não existe mais rock contra o racismo, sexismo, políticas públicas, desemprego. Ou alguma porra de festival contra tudo que está aí.

- Fuck off!

- Yeah!

- Alguma coisa está para acontecer.

- Você vai em uma festa de Dub, ou de Rock daquelas e sente a mesma energia que um concerto de rock, às vezes, sente até mais...aquela ânsia de um mundo melhor...

- Ânsia divina ânsia.

- I shall witness the day Babylon shall fall

- Ouvidn The Fall. Live at Witch Trails. Discão.

- Vamos fazer alguma coisa? Posso passar aí e levar uma coisa pra gente comer.

- Traz cerveja.

- Tempo que não ouço essa frase.

- Quantasw

- 4

- "Ou de como Bob Dylan inventou o Indie Rock". Título atraente, não?

- Clichê.

- ...

- Silence is a riddim too!

- Isso me deixa de cabelo em pé.

- Ainda chove por aí?

- Pouco.

- We are time.

segunda-feira, 15 de março de 2010

10 Filmes Sobre a Internet Engavetados por Hollywood:

10 - Zoando no Facebook (comédia)

9 - Orkuticídio Coletivo (drama)

8 - Perfil Falso (policial)

7 - Windows 6 (ficção científica)

6 - Roberto Carlos a 5 k/s (aventura)

5 - Conexão USB (policial)

4 - O Silício dos Inocentes (terror)

3 - Procura-se Susan no Google Desesperadamente (comédia romântica)

2 - O Segredo dos Teus Blogs (suspense)

1 - A Queda - As Últimas Horas do Modem (guerra)

* Com a colaboração de Sidney Barreto e Felipe Flexa

quarta-feira, 10 de março de 2010

Micro-contos de Mistério e Investigação - 2



O IMPERFEITO DO SUBJUNTIVO

"Sabe o que acontece quando o tocador de CD do meu computador fica muito tempo aberto? Ele fecha sozinho. Não é incrível isso? Como ele sabe que estava aberto?" Esta é só uma das milhares de observações implausíveis de meu amigo Parsival sobre a vida, a rotina, o tempo e os aparelhos eletrônicos que nos cercam. Para ele, coisas que aparentemente não possuem ligação alguma estão intimamente ligadas e tudo acontece feito mágica. Talvez para reforçar o truque e a teoria, Parsival sempre aparece em minha casa sem avisar. Já quase me acostumei com isso, apesar de sempre ficar com raiva. Mas, às vezes, uma conversa no meio da tarde com um amigo de infância pode render algumas linhas.

"A vida não começou na Terra. Começou em Marte."; "Já reparou que você pode entrar em qualquer loja de discos, se você encontrar o primeiro do Bad Brains, você vai encontrar o primeiro do Black Flag e logo em seguida o primeiro do Bob Marley?"; "Sabe que circula por aí um desenho dos Simpsons produzido no Paraguai?"; Estar com Parsival é ter a consciência de passar as próximas horas no "Aham". Porém, na última vez que ele apareceu por aqui, eu é que precisava falar sobre alguns fatos estranhos. Naquele dia, meu telefone tocou desde às oito. O que já parece esquisito, meu telefone não toca de manhã, nunca. Ou, se toca eu não ouço. Mas tocou também às nove, às dez...parecia uma emergência e às onze atendi.

Era uma oferta de um banco que sequer eu tenho conta. Dispensei. "Não me interessa e por favor não vá me ligar de novo ao meio dia." Duas horas depois, outro telefonema, outra oferta, banco diferente. Disse que ia viajar por seis meses para o Rajastão. A atendente perguntou se eu poderia fornecer algum número para ser localizado por lá. "Você pode me achar do mesmo modo que me achou aqui no Rio: Lista telefônica!". Contava essa história para Parsival e pela primeira vez em muitos anos, ele parecia me ouvir.

O telefone tocou novamente. Parsival fez uma cara de espanto. "Tá vendo? Você acabou de me contar essa história de telefonemas chatos. A cada dois telefonemas chatos a gente recebe um terceiro, surpresa, que é legal. Esta pode ser a promoção ou a pessoa que vai mudar a sua vida pra sempre. Atende." Atendi. "O senhor foi sorteado para conhecer a rede de hotéis Pestana. Todos os nossos quartos possuem vista para o mar e o senhor também concorre a um outro sorteio para conhecer nossos outros estabelecimentos no Nordeste. Basta o senhor me fornecer seus dados." Desliguei, é claro.

Depois de explicar mais um telefonema obscuro para Persival, ele não se conteve. "Você devia ter ido! Não tem nada demais. Não é caô. É uma oportunidade que só acontece uma vez na vida. Já recebi esse mesmo telefonema e fui. Conheci o hotel, almocei, tomei cerveja...tudo de graça. Só não viajei porque um mané, um gerentezinho de merda afim de mostrar serviço implicou comigo. Tudo bem que a promoção tava no nome da minha mãe...Teria alguma coisa demais se eu fosse no lugar dela?" Eu disse que o pior disso tudo é a cara de pau. "Ah, mas lembra quando a gente era moleque e dava calote no ônibus pra ir até o Shopping? É a mesma coisa. Se não fosse legal eles não estariam telefonando. É o imperfeito do subjuntivo." "Aham.", pensei.

segunda-feira, 8 de março de 2010

10 coisas estranhas ouvidas durante a entrega do Oscar

10 - "Achei maneiro porque ganhou um filme que ninguém viu." - Stevie Wonder.

9 - "A Academia cometeu uma injustiça esse ano. O Oscar de efeitos especiais era da Unidos da Tijuca." - Leci Brandão.

8 - "E o vencedor é...Dourado!" - Pedro Bial.

7 - "Foi uma honra só de ter sido indiciado." - Arruda.

6 - "E o prêmio de melhor apóstrofo vai para Mo´nique." - Afonso Romano de Sant´Ana.

5 - "O melhor filme estrangeiro pode ser argentino, mas o melhor do mundo ainda é o Pelé." - Galvão Bueno.

4 - "Quem ganhou o prêmio de melhor atriz loura em comercial de cerveja?" - Fausto Fawcett.

3 - "Não sei se a Academia já se deu conta do cacófato em cima da Meryl Streep que nunca ganha." - Professor Pasquale.

2 - "E o prêmio de melhor maquiagem vai para o PAC!" - Hillary Clinton.

1 -"Porra, Cameron! Faz um filme de macho!" - Pedro Almodóvar.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Micro-contos de Mistério e Investigação - 1



"Perdi. Mas estava aqui em algum lugar. Só preciso lembrar onde guardei." O taxista olhava desconfiado pelo retrovisor enquanto eu procurava por uma nota de vinte reais para pagar a corrida.

Logo eu, logo eu que sou tão meticuloso com as notas na carteira. Costumo organizá-las em ordem crescente. Das menores para as maiores. Uma tia me ensinou isso uma vez. "Desde que comecei a arrumar as notas desse jeito, nunca mais me faltou dinheiro. Foi um comerciante libanês que me ensinou." Eu era pequeno, mas ouvia tudo e seguia à risca. Realmente, era a tia mais rica da família. Ela tem tanto dinheiro que até hoje me presenteia com algum. Não tenho vontade nenhuma de dizer que não preciso mais pagar a faculdade. Sempre que posso, lembro dessa história com minha irmã. "Só pra você ela manda dinheiro. E olha que ela é minha madrinha e ainda tenho uma filha!" Depois cai na gargalhada. "É porque aprendi a guardar dinheiro na carteira como ela ensinou." É a minha explicação. Minha irmã entorta a boca, eu dou de ombros e divido meu "presente" com ela.

Pensei em contar essa história toda para o taxista, sem querer comover o homem, mais no intuito de entretê-lo enquanto eu enfiava a cabeça dentro da mochila já que não achava a nota de jeito nenhum. Mais estranho ficou quando de dentro da mochila saquei o DVD "As Filhas de Drácula" e mais o "Nebraska" do Bruce Springsteen. Nesse momento não cabia mais nenhuma explicação plausível. Pensei em escambo, mas vi que nenhum daqueles produtos estavam dentro da área de interesse do taxista. Qualquer um pode se perguntar porque eu estava com essas coisas tão díspares na mochila. Não é difícil dizer o motivo. Naquele dia, eu passei na casa de um amigo que me emprestou o filme. Ele mora perto de um sebo de discos e antes de voltar para casa, sempre passo lá para dar uma conferida. Achei uma versão remasterizada desse disco que é o meu preferido do Bruce e comprei. Nada demais, a não ser o fato de ter gasto o dinheiro do táxi nessa onda. Se é que eu gastei, pois me lembro bem da vendedora me passando o troco.

"Moço, não estou achando o dinheiro. Preciso passar no banco." O taxista olhou o relógio, tamborilou com os dedos no volante e quis saber quanto eu tinha. Respondi que além da honra, tinha mais sete reais. A parte da honra é mentira. Ele arrancou bruscamente e parou em frente a um caixa eletrônico quase perto da minha casa, mas que não funcionava. Saltei com a mochila nas costas e quando voltei com a notícia de que não seria possível tirar dinheiro algum, acho que ele falou alguma coisa sobre tomar no meio de algum lugar e partiu cantando pneu. Apalpei o maço atrás de algum cigarro no bolso da camisa e achei vinte reais.

quinta-feira, 4 de março de 2010

10 coisas que podem voltar com a volta do Sarney



10 - Doril

9 - Muky

8 - Pente de Itu

7 - Klep´s

6 - Impulse

5 - Cocaína

4 - Três em um da CCE

3 - Dalto

2 - Carnê do Baú

1 - Estresse