quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Sobre o Riso



- Então você trabalha para um programa de humor.

- Trabalho sim.

- Que tipo de trabalho faz por lá?

- Eu escrevo.

- Escreve o que?

- As piadas.

- Suponho que o programa deve ser engraçado.

- Quando as piadas são engraçadas, o programa fica engraçado. É incrível essa equação.

- E como você sabe que uma piada é realmente engraçada?

- Ah, sim...eu suponho dessa maneira: Quando alguém ri da piada.

- Digamos que você acabou de inventar uma piada e não tem pra quem contar.

- Quando mencionei "alguém", também me inclui nessa.

- Você tem que rir primeiro?

- Existem coisas que eu faço ainda mais estranhas que isso, pode acreditar.

- Mas vamos supor que você está no meio do mato, sem nada.

- Nada? Nem roupa?

- Não. De roupa você pode ficar.

- Ok. Então estou em um mato...sem nada...nem cachorro?

- Isso. Sem comunicação externa.

- Nem uma bússola?

- Depende. Você saberia usar?

- Não deve ser difícil. Não é só apontar pro norte e escolher a direção?

- E se a agulha estivesse quebrada?

- Eu me orientaria pelo...rio? Tem algum rio perto?

- Hmmm...tem.

- Aliás, estou no mato...é dia ou noite?

- Dia, vai.

- Só mais uma pergunta...Estou ali há semanas, meses?

- O suficiente pra começar a perder o controle.

- Certo. Sobre que assunto mesmo?

- Você está perdido no meio do mato. Não consegue encontrar seus amigos de trilha, você anda em círculos por horas e está bem estressado, não consegue achar graça em muita coisa e mesmo com todos esses infortúnios, subitamente, uma piada surge na sua cabeça! Você faz o que?

- Isso não é o roteiro da Bruxa de Blair?

- O que eu quero dizer é que...mesmo que você não ache graça da piada, outra pessoa pode achar.

- Meu principal objetivo na vida é espalhar piadas ruins e depois por a culpa no Jô.

- Acho que pra contar piadas, você não precisa ser engraçado.

- É verdade. Já com a piada acontece o contrário.

- Digo isso porque no bairro onde passei a infância, tinha um vizinho que era engraçado, mas não sabia contar piadas.

- Sei. E ele era bom em que? Botar apelidos?

- Não. Ele era fisionomicamente engraçado.

- Eu não acho graça disso.

- Aí é que tá! Ele fazia graça de si mesmo!

- O nome dele era John Merrick?

- Ele parecia um pássaro.

- HAHAHAHAHAHA! Como assim parecia um pássaro? Por acaso ele nasceu de um ovo??? Ele foi chocado?? HAHAHAHA!

- Ele era baixo, tinha um nariz enorme, era gordinho e de pernas longas e finas.

- Agora EU fiquei chocado. E...Oi? Ah, pernas! Entendi penas!

- Eu não achava nada confortável ou engraçado morar perto desse cara. Mas ele se tornou uma atração do lugar.

- E o que ele fazia de tão engraçado? Ciscava?

- Não. Ele subia em uma árvore e de lá ficava...assobiando: "bem-te-vi...bem-te-vi..."

- Tem certeza que isso não é uma lenda urbana? Alguém contou isso na sua mais tenra infância e você acreditou.

- Não. Eu cheguei a ver o sujeito.

- Sei. Num circo? E em que poleiro ele vive hoje?

- Não tenho ideia. Me disseram que ele migrou pro sul.

- Pois é como dizem...A ordem das árvores não altera o passarinho.

- Isso foi uma piada?

- Não. É uma letra de música. Mas, essa história me lembra uma piada antiga.

- Conta.

- Um bêbado entra em um velório e vê uma mulher chorando sobre o caixão e repetindo: "Morreu como um passarinho...Morreu como um passarinho..." O bêbado se afasta, sai pra fumar um cigarro e é interpelado por um homem que pergunta: "Aí, sabe o que foi que matou esse aí?" E o bêbado: "Pelo visto...foi estilingada!"

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