sábado, 20 de março de 2010

Franz Ferdinand - Fundição Progresso - Rio de Janeiro (RJ) 19 de março



Taí uma banda que sempre tive curiosidade de ver ao vivo. Muita gente me contou e conta até hoje que o primeiro show deles por aqui foi perfeito e inesquecível. Sei até de gente que deixou de ir neste novo show para preservar e deixar intacta a memória daquela noite. Apesar de estranhar a lógica, eu entendo. Também já tive a mesma atitude e não fui na segunda vinda do Kraftwerk (já tinha ido na lendária apresentação no MAM com Massive Attack - desorientação total pós-tudo). Mesmo assim, ainda pensei seriamente em passar aquela noite ajoelhado no milho mas, felizmente, arrependimento não mata (não que eu saiba)...Pelo menos pude me redimir assistindo a terceira vinda deles e acrescente-se Radiohead para tornar tudo ainda mais antológico. Ufa! Contas acertadas com os "alemão", vamos a noite de ontem...

Franz Ferdinand é uma banda cheia de boas referências. Ecos de Duran Duran, Talking Heads (nas guitarrinhas shaka shaka), Wire, Pulp, U2 (utchú!), Bowie (teclados e lá-lá-lá-lo-lo-lo...) Mais ou menos tipo meio que os Strokes fizeram reprocessando Velvet / Television / Ramones / Stooges. "Ninguém se livra do passado." Já dizia Tom Zé.

Casa lotada. Tamanha adoração só vi em shows dos Racionais e dos Los Hermanos. Se bem que Racionais é rap e rap é outra história, a "evangelização" se dá de outra forma. Para se falar de rock é preciso falar de um outro tipo de atitude. Fãs de rock se comportam das mais variadas maneiras. Algumas bem esquisitas. Tem aquele tipo de fã que precisa dançar. E ele vai ocupar o espaço que for para realizar esse desejo. Esse tipo vai esbarrar em você e pedir desculpas (ou não) durante todo o show. Tem aquele outro que passa o show inteiro tentando encontrar o melhor lugar e vê o show de passagem (esse aí, na verdade gosta mesmo é de se roçar nos outros e não está lá muuito interessado no que está acontecendo no palco). Tem os que gostam de se espremer lá na frente e tem outros, como eu, que preferem encontrar uma "Zona de Conforto" e ficar ali "tocando" guitarra, baixo e bateria imaginários, acompanhando o ritmo com a cabeça. "Diboa?" ir a um show, qualquer show, é a mesma coisa que ir no teatro ou no cinema. Exige o mínimo de compostura, só que, às vezes, não tem lugar marcado e não necessariamente você precisa estar de olho no que está bem na sua frente. Muita gente não entende isso.

Acontece que ali eu devia ser o menos fã da banda. Isso não quer dizer que eu não goste das músicas, conhecia um ou outro hit. O disco novo ouvi uma ou duas vezes e não fixei muito. O fato é que em certos momentos me senti em um show dos Beatles sem ter a menor idéia de "quem são aqueles quatro rapazes?". Todas, praticamente todas as músicas são hits e entoadas em uníssono pela galera. Kapranos (Cá pra nós) e cia comandam a massa, sem forçar a barra, eles encontraram a mistura certa de fazer pose sem ser "poseur", bumbo e caixa discophunk (is the beat from tha hearts), sintetizadores, teclados e melodias que dissolvem na boca.

Em qualquer espetáculo, qualquer um, chega um momento em que uma pergunta sempre me vem à cabeça: "O que é que eu estou fazendo aqui?" Desta vez, aconteceu no momento em que o meu bioritmo se desconectou um pouco do show, fumando um cigarro mais fraco do que eu costumo fumar na varanda da Fundição. Olhar a Lapa. Há quanto tempo que frequento aquele lugar, há quanto tempo que aquilo existe (aquedutos, oi?) Devia pensar nos royalties do petróleo, devia pensar na instabilidade geopolítica que atravessamos, ou "e se aquilo fosse uma prova de resistência do bbb?" Eu devia pensar era em parar de fumar.

O público começou a sair lenta e gradualmente, apesar do aperto, sem maiores incidentes e eu ali, celular na mão, em busca de mais um sonho lúcido.

3 comentários:

Unknown disse...

Showzaço, um dos melhores que já fui. E também me lembrei de Los Hermanos, ali naquele mesmo lugar, há uns 6 anos.
Belo texto, as usual! :***

Artur Miró disse...

não fui no show, mas o texto é antológico. Tão bom quanto o show.
Abráx!

Frida disse...

Podiam colocar aquele negócio de "curtir" no blogspot.... crismiranda "curtiu" sua postagem... ao invés disso tem esse negócio chato de 'verificação de usuário' e a palavra da vez foi: TERSOL, rsrsrsrsrs