segunda-feira, 22 de junho de 2009

PORNOPOPÉIA

pornopopeia

Comecei a ler ontem esse livro de Reinaldo Moraes que só tinha ouvido falar mas nunca tinha lido nada dele. Sabia da importância de seu primeiro livro, “Tanto Faz” de 1981, e como leitura é uma coisa cumulativa, outras coisas entraram na frente e aqui estamos no ano de 2009.

“Beatnik é o cacete!” exclamação que dava título a matéria do Globo quando do lançamento de “Pornopopéia”. Eu e meu amigo Persegonha repetimos a frase com ênfase até hoje. Temos esta peculiaridade quando gostamos de algumas assertivas.

O fato é que a expressão do autor cai bem para o “Pornopopéia”, que não se enquadra em rótulos. A narrativa prende e quando vi já estava na página 70 sem querer parar e só pisei no freio dado o avanço da hora.

A história de Zeca, cineasta e escritor com bloqueio é velha, mas aqui se refaz e instiga na situação de que ele precisa entregar um roteiro de um institucional para a fábrica de embutidos de frango Itaquerambu, trabalho sacal, mas que garante umas semanas de folga e farra. Por “Farra” leia-se desregramento dos sentidos por substâncias entorpecentes como cocaína, álcool, brenfa e sexo. É justamente por causa de uma mega-farra de dias atrás, ou uma “surubrâmane”, que o protagonista participou que vem o bloqueio. Ele acredita que só vai ter espaço na cabeça para o institucional se contar ou escrever em detalhes o que aconteceu na bacanal. Seguindo o pensamento atravessado por cobranças do cliente, “esse Deus do Olimpo”, do trafica e da ex-mulher, Zeca tenta rememorar a orgia triunfal em que se meteu e foi metido.

É uma narrativa engraçada, franca, sem vontade nenhuma de ser hermética, experimental ou para utilizar um clichê dos infernos: “marginal”. A mistura de erudição com malandragem de Reinaldo Moraes flui naturalmente.

Reproduzo aqui alguns trechinhos:

“O que tá pegando é esse oco na cabeça que sempre me acomete depois duma viagem de ácido. É um oco diferente dessa vez, como uma série de ôcos embutidos um dentro do outro, até o oco nuclear e infinitesimal onde se abriga o vazio compacto da alma inexistente.

A alma, como se sabe, é um organismo arcaico com três órgãos: miolos, estômago e genitália. Nenhum deles, no meu caso, quer saber de embutidos de frango. Sem condições. Pau no cu da Itaquerambu. Reiteram em rima pobre as três instâncias de minhalma rastaqüera que me pariu.”

“O papo ali era foco no cliente, agregar valor, sinergia, comunicação integrada, trade marketing, upscalling, benchmarking, opportunity scanning eo o caralhaquatring. Levemente cheirado e fumado – sempre dou uns pegas e uns tirinhos no carro antes das reuniões – eu boiava naquele patuá barbárico. Fico dois, três meses sem pegar um job, e quando volto à ativa, já não entendo metade do que esses caras falam, tão rápido se renova a porra do marquetês.”

“Não tenho mais gosto por esse arsenal de “ganchos” que visam deixar o espectador pendurado pelo saco na fornalha da ansiedade.”

Beatnik é o cacete!

2 comentários:

Artur Miró disse...

Comprei!!! Abraços!

turbina de ideias disse...

Navegando cheguei até aqui. Também estou lendo "Pornopopéia" e adorando.