domingo, 7 de junho de 2009

FESTIVAL CASSAVETES – II

NOITE DE ESTRÉIA

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“Não estou atuando.” diz a atriz Myrtle Gordon, magnificamente interpretada por Gena Rowlands. Um filme que expõe as marcas entre representar e viver. Cada vez que assisto a um filme de Cassavetes fico tão impactado que acho tudo em volta chato e ultrapassado, tamanho o vigor do sujeito em contar histórias.

“Noite de Estréia” tem a dramaturgia toda construída em cima de idéias de outros filmes do próprio Cassavetes. Seu estilo único de não-separação entre ator e personagem, vida e arte, aqui aparece nos bastidores e fundamentos de uma peça de teatro.

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A atriz principal, Myrtle Gordon, entra em colapso depois de ver o atropelamento de uma jovem fã que minutos antes havia pedido um autógrafo. Depois de romper com seu amante (na vida real) e marido (na peça), interpretado pelo próprio Cassavetes que na época era realmente casado com Gena Rowlands, provoca uma crise de identidade e auto estima de enlouquecer.

Ela reclama que não tem nada a ver com o personagem da peça escrito por uma velha autora de teatro. “Sinto que perdi o senso de realidade da...realidade. Quero atuar de uma forma que a idade seja o menos importante para este personagem.” Gena Rowlands tem um carisma inacreditável. Nunca vi alguém interpretar daquele jeito. Patética, charmosa, quase uma heroína trágica.

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Outro destaque deste filme é a presença de Ben Gazarra como diretor da peça e “melhor amigo” de Myrtle/Gena. Os dois são presença constante nos filmes de Cassavetes, mas nunca atuaram juntos, no mesmo filme. Em “Noite de Estréia” é a primeira vez. Dá para perceber ali um encontro de dois grandes amigos, atores, artistas, pensadores admiráveis e geniais.

“O filme é sobre uma mulher que trabalha, uma atriz, seus sonhos e fantasias que se confundem e misturam com a realidade. Em um certo momento, alguém tenta colocar um ponto final nisso dizendo a ela “Você não gosta de fazer esta peça porque você sente que está envelhecendo.” Por um momento ela não acredita ser esta a razão, mas ela não pode provar isso. Ao longo de todo o filme ela luta sozinha dizendo: “Se eu tiver que aceitar isso, estou acabada, será o fim, nunca mais terei qualquer tipo de alegria ou prazer.” Ela luta e vence no final.” – John Cassavetes.

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