sábado, 20 de junho de 2009

BERLIN

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A primeira vez que ouvi esse disco foi como se eu tivesse encontrado uma passagem para a “Zona Neutra”. Era a mesma sensação do dia em que ouvi o “Never Mind the Bollocks” dos Pistols só que mil vezes mais neutralizante.

O disco, gravado em 1973, é de uma unidade impressionante, as faixas são interligadas e contam uma história que pode ser dividida em atos, como uma peça, ou a já desgastada expressão “ópera rock”. Lou Reed praticamente inventou o punk desde que nasceu, mas aqui ele atinge o pico (sem trocadilhos) tocando em temas como drogas, depressão, suicídio e violência.

“Eu quero ser uma mistura de Elvis com Dostoievski.” É isso, acho que essa frase é dele e pode ser tomada como a mais pura verdade. A base de Lou Reed é o rock and roll mais autêntico somado a uma formação intelectual triunfante que mistura os clássicos com a vida nas ruas (e quem disse que uma coisa é distinta da outra?).

Apesar de ser considerado um dos melhores discos já feitos, estar sempre na famigerada lista dos “dez mais”, não vendeu uma mísera cópia e por muito tempo ficou apenas na memória de quem ouviu. Por mais de trinta anos ele jamais apresentou o disco ao vivo.

Lou Reed with his band (L to R: Steve Hunter, Bob Ezrin, Lou Reed, Tony Smith, Fernando Saunders)

Em 2006, Lou Reed juntou uns amigos e recriou “Berlin” ao vivo com direito a orquestra, em apenas cinco noites em um teatro no Brooklyn, NY. O diretor Julian Schnabel (O Escafandro e a Borboleta, Basquiat) que de bobo não tem nada, participou do processo e filmou tudo.

A força de “Lady Day”, “Men of Good Fortune”, “Caroline Says”, “How Do You Think It Feels”, “Sad Song”, todas, todas as canções que reviram o soul, o blues e o gospel de cabeça pra baixo fazem com que no final você tenha a sensação de ter visto um clássico da tragédia moderna. Para tornar a coisa ainda mais atraente, o concerto ainda contou com a participação da atriz Emanuelle Seigner em projeções no fundo do palco e Anthony Hogarty do “Anthony and the Johnsons” nos backing vocais.

Assisti aos dois concertos de Lou quando ele esteve aqui no Rio e não me esqueço jamais. Nunca vi alguém com tamanha atitude cool em um palco. E acredito que vai ser difícil ver de novo.

Segue uma pungente apresentação em 1972, aqui com John Cale...

 

Um comentário:

Frida disse...

liiindooo, liiiindo....