Ou “Memórias”, filme de Woody Allen de 1980. Estranha tentativa do diretor em se tornar Fellini, mais precisamente o Fellini de “Oito e Meio”, mas apenas na forma.
Vê-se o esforço de Allen na época de tornar-se um diretor “sério”, com a estória de um diretor em crise com o público, crítica e vida pessoal. Os personagens incomodam ele o tempo todo pedindo autógrafos, repetindo frases bizarras e pedindo coisas absurdas. No livro “Conversas com Woody Allen” ele fala um pouco sobre a idéia do filme:
“Quando fiz Memórias, não sentia que era um cineasta muito querido, cuja vida era infeliz e tudo a minha volta era terrível. Achava que era um cineasta respeitável e as pompas do sucesso – como disse em Celebridades – na verdade superam as adversidades. Nunca fiquei travado, nem tive muitos conflitos, nem fiquei melancólico – embora sempre tenha feito esse personagem. Claro, o público não me conhece – só conhece o personagem que eu apresento para criar conflito e risadas.
Eu queria fazer um filme estiloso em preto e branco sobre um artista que teoricamente deveria ser feliz. Ele tem tudo na vida – saúde, sucesso, riqueza, fama – mas na verdade não tem nada, é muito infeliz.
O filme todo acontece na cabeça dele. Fotografado de forma exagerada, você vê todos os conflitos da vida dele, com a mulher que ele pensa em se casar, com a outra mulher por quem está apaixonado, a nova mulher que o lembra da primeira, além do lado negativo da celebridade: a pessoa sem privacidade.
De todo modo, o que o público de Memórias pensou foi: “Ah, esse cara está mostrando como a platéia é idiota." Nunca achei o público burro ou grotesco. O público no filme não passava de uma representação exagerada. Eu exagerei esses problemas e ansiedades, mas se as pessoas pagam pelo ingresso, resistência não é o caminho que querem. Sem dúvida o erro foi meu se não deixei claro o que queria dizer.
As pessoas diziam: “Por que não volta para o clima de suas primeiras comédias?”. E não se pode ir pelo que as pessoas dizem. Você precisa fazer o que tem que fazer no momento, e se as pessoas gostam, sorte sua; se não gostam, azar o seu.”
Apesar deste ser o filme mais auto-referente, beirando a esquizofrenia, de Woody Allen, o somatório de forças da beleza assombrosa de Charlotte Rampling mais a trilha sonora sensacional, garantem o confere.
3 comentários:
sou fã dele, mas acho que esse eu nunca assisti. de qualquer forma, mulher bonita e música de altíssima qualidade estão sempre presentes nos filmes dele.
amo as trilhas sonoras.
AMO esse filme absolutamente. E só nesse último fim de semana é que eu fui assistir ao 8 e meio do Fellini.
Gostei, mas aquela dublagem é bizarra demais, demorei uma meia hora pra conseguir abstrair a voz totalmente fora de sincronia com a boca dos atores.
Em "Celebridades", Allen tentou fazer "A doce vida"...
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