A MORTE DO BOOKMAKER CHINÊS
Cosmo Vitelli (Ben Gazarra) é dono de um night club, o Crazy Horse West e tem uma dívida pessoal com a máfia. Para acabar com a cobrança, gangsters exigem que ele execute o chefe de outro bando, apelidado de “o bookmaker chinês”.
A direção de John Cassavetes impressiona pela incrível certeza e destreza que ele tem em conduzir ator e câmera em um movimento único, quase respirando juntos.
“Queria falar de conformismo, sobre alguém que poderia ter sido um empresário bem sucedido mas procura fazer o que acha certo e vai ser morto por isso. Eu lembro da cena em que ele perde todo o dinheiro que tem e ainda aperta a mão dos criminosos, Ben Gazarra fez com estilo e sinceridade, porque ele é realmente educado. Acredito que as pessoas acharam o filme triste por tocar em questões reais e difíceis de engolir.” Palavras do diretor.
Todas a as atitudes de Cosmo são carregadas de ambigüidade. Em um longo monólogo perto do fim, ele admite que está sempre traindo sua verdadeira natureza:
“Olhe pra mim, só estou feliz quando estou com raiva, quando estou triste, quando me faço de bobo, quando posso ser o que as pessoas querem que eu seja, é melhor do que ser eu mesmo.”
Continua Cassavetes: “Ninguém gostou. Tirando dois ou três críticos americanos, o resto demoliu o filme. De uma certa maneira, é um dos meus filmes que eu mais gosto. É como aquela criança que ninguém gosta e por isso os pais tem por ela um carinho especial.”
Ele parecia prever a rejeição ao filme e ironizou isso durante a sequência final onde vemos um show no Crazy Horse West e o mestre de cerimônias da casa chamado de “Mr. Sophistication” canta uma versão mal humorada de “I can´t give you anything but Love” para o público e, por extensão, quem assiste o filme. A última frase que ouvimos é de uma corista para Mr. Sophistication dizendo que o público o adora, mesmo que ele pense que não.
A bagunça no caráter dos personagens, até certo ponto, desrespeita as “boas regras de conduta” do roteiro policial clássico, aqui, tudo que é imprevisível e desconcertante é roteiro, sem impedimentos. Livre como um animal na selva.