sexta-feira, 29 de maio de 2009

FESTIVAL CASSAVETES – I

A MORTE DO BOOKMAKER CHINÊS

Cosmo Vitelli (Ben Gazarra) é dono de um night club, o Crazy Horse West e tem uma dívida pessoal com a máfia. Para acabar com a cobrança, gangsters exigem que ele execute o chefe de outro bando, apelidado de “o bookmaker chinês”.

A direção de John Cassavetes impressiona pela incrível certeza e destreza que ele tem em conduzir ator e câmera em um movimento único, quase respirando juntos.

chineese bookie1“Queria falar de conformismo, sobre alguém que poderia ter sido um empresário bem sucedido mas procura fazer o que acha certo e vai ser morto por isso. Eu lembro da cena em que ele perde todo o dinheiro que tem e ainda aperta a mão dos criminosos, Ben Gazarra fez com estilo e sinceridade, porque ele é realmente educado. Acredito que as pessoas acharam o filme triste por tocar em questões reais e difíceis de engolir.” Palavras do diretor.

Todas a as atitudes de Cosmo são carregadas de ambigüidade. Em um longo monólogo perto do fim, ele admite que está sempre traindo sua verdadeira natureza:

“Olhe pra mim, só estou feliz quando estou com raiva, quando estou triste, quando me faço de bobo, quando posso ser o que as pessoas querem que eu seja, é melhor do que ser eu mesmo.”

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Continua Cassavetes: “Ninguém gostou. Tirando dois ou três críticos americanos, o resto demoliu o filme. De uma certa maneira, é um dos meus filmes que eu mais gosto. É como aquela criança que ninguém gosta e por isso os pais tem por ela um carinho especial.”

Ele parecia prever a rejeição ao filme e ironizou isso durante a sequência final onde vemos um show no Crazy Horse West e o mestre de cerimônias da casa chamado de “Mr. Sophistication” canta uma versão mal humorada de “I can´t give you anything but Love” para o público e, por extensão, quem assiste o filme. A última frase que ouvimos é de uma corista para Mr. Sophistication dizendo que o público o adora, mesmo que ele pense que não.

A bagunça no caráter dos personagens, até certo ponto, desrespeita as “boas regras de conduta” do roteiro policial clássico, aqui, tudo que é imprevisível e desconcertante é roteiro, sem impedimentos. Livre como um animal na selva.

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quarta-feira, 27 de maio de 2009

3 MACACOS

Segundo a Wikipedia, Três Macacos Sábios ilustram a porta do Estábulo Sagrado, um templo do século XVII localizado no Santuário Toshogu, na cidade de Nikko, Japão. Sua origem é baseada em um trocadilho japonês. Seus nomes são mizaru (o que cobre os olhos), kikazaru (o que tapa os ouvidos) e iwazaru (o que tampa a boca), que é traduzido como não ouça o mal, não fale o mal e não veja o mal. A palavra saru, em japonês, significa macaco e tem o mesmo som da terminação verbal zaru, que está ligado à negação.


O filme turco "Uç Maymun" (3 Macacos, aqui) de Nuri Bilge Ceylan mostra pai, mãe e filho como os macacos japoneses, o que nada vê, o que nada fala e o que nada escuta. Assistir ao filme é uma experiência sensorial, por vezes incômoda, que mostra a desagregação de uma família por conta de um acordo bizarro com pouquíssimos diálogos, atmosfera opressiva e uma fotografia de rara beleza.

Não sei se a Turquia é o lugar mais apropriado para se passar o verão. De dia calor infernal e fim de tarde tempestade. Os personagens traem, brigam, sofrem de alucinações e se amam como qualquer pessoa. Sai do cinema com a sensação de calma aparente e desespero controlado. Era de tarde, entrei no cinema como um desvio e comemorei quando cheguei em casa antes das oito. Se eu tivesse ido na sessão das dez, macacos me mordam, perderia o sono, certamente.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

BREVES BIOGRAFIAS – IV

NICK DRAKE

(1948-1974)

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“Conheci Nick em 1968 quando ele chegou em minha casa com uma fita de algumas de suas gravações caseiras. Logo nos primeiros acordes eu reconheci um raro talento. Nos divertíamos muito trabalhando juntos. Ele era muito tímido e quieto, mas muito firme em suas opiniões musicais. Quando ele começava a tocar não havia hesitação, seus dedos eram incrivelmente fortes e precisos. O som que ele conseguia tirar do violão era rico, denso em contraste com sua voz sussurrante, intimista.

Os discos foram muito bem recebidos pela crítica, mas a timidez o impedia de tocar ao vivo e assim divulgar suas músicas. O tempo passou e Nick estava cada vez mais isolado e deprimido e acabou morrendo de overdose acidental de anti-depressivos.

Nos anos seguintes o interesse por sua música só aumentou. Parecia que as proféticas palavras de “Fruit Tree” tornaram-se realidade:

“Fame is but a fruit tree

So very unsound

It can never flourish

Till its stalks on the ground

So men of fame

Can never find a way

Till time has flown

Far from their dying day”

Joe Boyd – Produtor musical de Nick Drake, Fairport Convention, R.E.M., entre outros.

 

domingo, 24 de maio de 2009

WOODY IN RIO

Depois que o jornal O Globo pediu para alguns roteiristas argumentos para o filme carioca de Woody Allen, deixo aqui minhas sugestões para o diretor:

1. LA BOUCHESE (O BRECHÓ) - Artista norueguesa (Bjork) decide mudar de vida e arruma emprego de baby sitter na casa de milionário (Ronaldo). Um atentado terrorista mata a filha dele (Bruna Surfistinha) e um ator pornô (Kid Jamaica) assume a autoria do crime. A baby sitter coloca o milionário para ter aulas de yoga com Madonna (Madonna) e eles se apaixonam. Ela é demitida e decide abrir um brechó na Lapa.

2. PLEONASM FROM OUTER SPACE (UMA AULA MUITO LOUCA) – Grupo de estudantes (Malu Magalhães, Roberto Pirilo e Zeca Camargo) decidem fazer uma rave em Marte. Sequestram notório cientista (Walmir Salaro), um astronauta (Arnaldo Bloch) e um DJ (Marlboro). Chegando no planeta vermelho, encontram produtora cultural (Mulher Melão) que precisa agitar um evento beneficente e conseguir verba para fazer um documentário sobre a cena eletrônica carioca. Depois de várias discussões sobre orçamentos chegam a conclusão que o projeto é inviável e decidem embarcar em um foguete em direção ao sol.

3 . LEAVING NAGOYA (ADEUS, MENINOS) – Homem que cospe fogo em sinal (Maicosuel) é atropelado por cinegrafista amador (Cacá Diegues). A única testemunha do acidente é um ator decadente (Diogo Mainardi) que tenta subornar o cinegrafista com favores sexuais em troca de silêncio. Revoltada com a situação, a mulher do cinegrafista (Valeska Poposuda) atira no ator, o qual não morre. É socorrido por um jovem no auge de sua masculinidade (Rodrigo Lombardi). Juntos, planejam vingança contra os dois assassinos e depositam um flagrante todas as noites em frente a portaria do prédio onde mora o casal. Até o dia em que o síndico (Thomas Green Morton) acorda de ovo virado e transforma todos em psiquiatras.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

3 FILMES INCRÍVEIS E SEUS PERSONAGENS MARAVILHOSOS

O que Wilson Simonal, Darlene Glória e MC Chapadão têm em comum? Quase nada. Mas, vamos pela ordem:

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SIMONAL – NINGUÉM SABE O DURO QUE DEI.

Muito já se falou sobre esse filme e para não chover no molhado, posso, como espectador comum, dizer que gostei muito. O início é ótimo. Visualmente bem cuidado, engraçado e cínico como poucos filmes brasileiros. Da metade pro final, a coisa muda e fica “séria”. O que me fez sair do cinema com a sensação de ter visto uma bela homenagem. Na verdade, nunca fui muito fã de Simonal. Uma música ou outra que chamava atenção, mas sempre achei os arranjos todos muito iguais e ele muito presepeiro. A vontade que eu tinha, sempre que ouvia seus discos, era de ver o sujeito cantando ao vivo e isso o filme tem de sobra. As imagens de arquivo trazem momentos sublimes. Agora, mais do que um filme de personagem, o barato é ver a platéia brasileira que acredito não ter igual em lugar nenhum do mundo. Brasileiro ama cantar junto, fazer coreografias e ser parte do show. Simonal realmente dominava essa arte e arrisco dizer que foi o precursor de toda essa...por falta de melhor palavra...presepada.

FELIZ NATAL

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Bom esse filme de Selton Melo. Continuando a onda de “filmes de personagens”, ele conseguiu contar a história de uma família completamente desestruturada sem cair na pieguice. Por mais que encha um pouco o saco a constante cara de choro dos atores em alguns momentos, a coisa toda é bem feita e comove. Grandes atores, bom texto e Darlene Glória que é um caso à parte. No Making Of, tem um depoimento de Selton sobre o momento em ele decidiu colocar a Darlene na história: Fazer uma ponte direta e sem escalas com o Toda Nudez... Telmo Fernandes também é outro ator brilhante. Lembrei de alguns amigos com o personagem dele. Só isso já me faz recomendar.

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L.A.P.A.

Outro altamente recomendável é este documentário do Cavi e do Emílio sobre o Hip Hop feito na Lapa. Bairro do Rio que é quase um celeiro de personagens. Disse alguém que o cinema é a “arte do presente” e não tem quem contribua melhor para falar do presente, do aqui e agora como os rappers. Não tem como não se espantar com a fúria do Marechal estilhaçando frases, com a dedicação e o talento do Funkero e o carisma do MC Chapadão. Vozes que inovam e reinventam a própria história. Mais do que qualquer coisa, um documentário precisa ter sinceridade. E o filme é isso.

terça-feira, 19 de maio de 2009

STARDUST MEMORIES

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Ou “Memórias”, filme de Woody Allen de 1980. Estranha tentativa do diretor em se tornar Fellini, mais precisamente o Fellini de “Oito e Meio”, mas apenas na forma.

Vê-se o esforço de Allen na época de tornar-se um diretor “sério”, com a estória de um diretor em crise com o público, crítica e vida pessoal. Os personagens incomodam ele o tempo todo pedindo autógrafos, repetindo frases bizarras e pedindo coisas absurdas. No livro “Conversas com Woody Allen” ele fala um pouco sobre a idéia do filme:

“Quando fiz Memórias, não sentia que era um cineasta muito querido, cuja vida era infeliz e tudo a minha volta era terrível. Achava que era um cineasta respeitável e as pompas do sucesso – como disse em Celebridades – na verdade superam as adversidades. Nunca fiquei travado, nem tive muitos conflitos, nem fiquei melancólico – embora sempre tenha feito esse personagem. Claro, o público não me conhece – só conhece o personagem que eu apresento para criar conflito e risadas.

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Eu queria fazer um filme estiloso em preto e branco sobre um artista que teoricamente deveria ser feliz. Ele tem tudo na vida – saúde, sucesso, riqueza, fama – mas na verdade não tem nada, é muito infeliz.

O filme todo acontece na cabeça dele. Fotografado de forma exagerada, você vê todos os conflitos da vida dele, com a mulher que ele pensa em se casar, com a outra mulher por quem está apaixonado, a nova mulher que o lembra da primeira, além do lado negativo da celebridade: a pessoa sem privacidade.

De todo modo, o que o público de Memórias pensou foi: “Ah, esse cara está mostrando como a platéia é idiota." Nunca achei o público burro ou grotesco. O público no filme não passava de uma representação exagerada. Eu exagerei esses problemas e ansiedades, mas se as pessoas pagam pelo ingresso, resistência não é o caminho que querem. Sem dúvida o erro foi meu se não deixei claro o que queria dizer.

As pessoas diziam: “Por que não volta para o clima de suas primeiras comédias?”. E não se pode ir pelo que as pessoas dizem. Você precisa fazer o que tem que fazer no momento, e se as pessoas gostam, sorte sua; se não gostam, azar o seu.”

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Apesar deste ser o filme mais auto-referente, beirando a esquizofrenia, de Woody Allen, o somatório de forças da beleza assombrosa de Charlotte Rampling mais a trilha sonora sensacional, garantem o confere.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

O CANTO DOS ESCRAVOS

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“Em 1928, indo em gozo de férias a S. João da Chapada, município de Diamantina, chamaram-me a atenção umas cantigas em língua africana ouvidas outrora nos serviços de mineração. Entendi, posteriormente, de realizar de vez, o velho plano de recolher os “vissungos”, como lhes chamam, reunindo ainda o vocabulário e a gramática da “língua de benguela”, certamente transformada em nosso meio. A necessidade que tinham os brancos de aprender a língua das cantigas na linguagem corrente – tudo isso deu corpo à antiga suspeita que existiu na Chapada um dialeto de negros bantos.”

Esta é uma parte do texto de Aires da Mata Machado Filho, autor do livro “O Negro e o garimpo em Minas Gerais” que está no encarte deste disco que é um marco. O Canto dos Escravos foi recriado e reinterpretado pelas vozes de Clementina de Jesus, Tia Doca e Geraldo Filme.

São cantigas que os cativos entoavam nas fazendas, durante o trabalho - os “vissungos”. Palavra que vem de “ovisungo” (cantiga, cântico), de acordo com Nei Lopes em seu Dicionário Banto do Brasil. São os últimos sopros de um dialeto banto durante um tempo em que se pensava que o nagô era a língua oficial dos negros trazidos para o Brasil.

Sem instrumentos harmônicos, a percussão de Djalma Corrêa, Papete e Don Bira mistura toques de xequerês, enxadas, cabaças, atabaques e afoxés.

Na Umbanda, os Preto-Velhos representam sabedoria. São espíritos de velhos escravos que morreram açoitados ou de velhice e que apesar da total falta de liberdade, nunca perderam a fé.

domingo, 10 de maio de 2009

FESTIVAL GODARD: WEEK-END

O roteiro é o seguinte: Depois de uma conversa sobre sexo, Rolland e Corine decidem viajar de carro até a casa dos pais dela. Na estrada, topam com engarrafamentos monstruosos, vários acidentes, carros incendiados, figuras da revolução francesa redivivas e um grupo de terroristas canibais.

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Godard, 1967. Por Glauber Rocha:

“Cínico, anarquista, irreverente, trágico, romântico, irresponsável, clássico, inquieto e desconcertante – eis a multiface deste franco-suíço magro e nervoso.

As dúvidas são muitas, a polêmica cresce, a pergunta é inevitável nos quatros cantos do mundo:

- Você gosta de Jean-Luc Godard?

Pra começo de conversa nenhuma pessoa com princípios gosta de Godard.

Godard é um dos melhores temas para a chamada discussão sobre “arte e engajamento”. Esta conversa cheia de chavões é o blá-blá-blá preferido dos chamados críticos conservadores.

O máximo de coisas no mínimo de tempo, ação simultânea, um encontro da sociologia com a ficção, da antropologia com a poesia, de Shakespeare com science-fiction, da pintura com a filosofia.

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Quando Carlos Drummond de Andrade escreveu o poema da pedra (No meio do Caminho), o poema virou piada pelo Brasil afora.

Qualquer imbecil de gravata contava com muita graça o verso da “pedra no meio do caminho” e dizia: - “Esta eu também faço!”

Hoje, Drummond se consagrou como o grande poeta brasileiro e um dos maiores do mundo: o verso da “pedra no meio do caminho”, ganha sua devida força, seu terreno é firme, suas raízes ninguém mais arranca.

Os filmes de Jean-Luc se parecem com esta “pedra no meio do caminho”.

O cinema é a lata de lixo das belas artes.”

Rolland pede carona em uma auto-estrada. Um carro para, o motorista abre a janela e pergunta:

- Você está num filme ou na realidade?

- Em um filme. – Rolland responde.

- Em um filme? Você mente.

O motorista arranca com o carro deixando Rolland sozinho.

Rolland exclama: - Que filme podre! A gente só encontra com gente doida!

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HOMENAGEM

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sábado, 9 de maio de 2009

PENSAMENTOS

Cruzar a cidade headphone óculos escuros Taquara James Brown

HOMEM – Qualquer coisa me liga... O que quer dizer isso?

MULHER – Se acontecer um imprevisto...Se tiver muito bom...

HOMEM – Mas se tiver muito bom, aí é que eu não ligo pra ninguém.

MULHER – Costumo usar “qualquer coisa me liga” quando quero dizer: Boa noite e até amanhã.

isso não dá certo porque lá eles querem alguma coisa que tenha começo meio e fim e fora disso tem que ser muito genial para não ser derrubada e fazer uma coisa genial já não é comigo

HOMEM 1 - Não estou na internet.

HOMEM 2- Como assim? Todo mundo está na internet.

Que merda de roteirista que eu sou que não consegue ter uma porra de uma idéia consistente

HOMEM - O que parece?

MULHER - Uma espinha.

HOMEM - Eu quero que um médico me diga isso.

Chega de metalinguagem chega? que seja real que seja engraçado SITUAÇÕES SALA DE ESPERA DE UM CONSULTÓRIO JANTAR ENTRE AMIGOS SAÍDA DE UM RESTAURANTE

HOMEM 1- Eu subo e desço as escadas de lá do trabalho várias vezes ao dia. O escritório fica no quinto andar.

HOMEM 2 - Já é um spinning.

HOMEM 1- E você não chega suado?

HOMEM 2 - Chego. Mas onde eu trabalho, são três ar condicionados apontados pra minha cara.

escrever não faz sentido algum Copacabana Miles Davis

sexta-feira, 8 de maio de 2009

quarta-feira, 6 de maio de 2009

PIADEMIA

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10 SUGESTÕES DE NOVOS NOMES PARA A NOVA GRIPE:

10 – Defluxo pré-colombiano

9 - Coriza muy grande, Señor

8 – Resfriado Asteca

7 –Menudo Influenza

6 – Burrito entupido

5 – Huevos Moles

4 – Piñata Del Valle

3 - Michelada

2 – Romerito

1 - Tomales

segunda-feira, 4 de maio de 2009

sexta-feira, 1 de maio de 2009

TUDO VAI BEM

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Jean-Luc Godard por Jean-Luc Godard:

“Eu tentei criar imagens simples e descomplicadas, precisamente para mostrar a complexidade da situação. “Tudo Vai Bem” é um filme sobre a França em 1972. Usando uma greve violenta em uma fábrica de linguiça para mostrar as forças sociais presentes. As três forças sociais na França presentes naquele momento eram os empregados, os patrões e os sindicatos. Também quis mostrar os esquerdistas, aqueles que estavam cheios de tudo. Quis mostrar essas três forças sociais no mesmo espaço físico ao invés de primeiro descrever os indivíduos, descrevi as massas e sua a força de luta. Porque era real. Era o que estava acontecendo na França, era uma luta violenta entre patrões e empregados.

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Sempre que me acusam é desse jeito: “Ah, você quer fazer filmes sobre a classe operária mas você não sabe de nada.” Eu respondo que não é tão simples assim. Primeiro que é normal o jeito que faço os filmes. Até um filme cheio de boas intenções pode ser considerado muito ruim. Eu penso que o desafio não é fazer filmes “em nome de” e sim falar em nosso próprio nome.

Um trabalhador que compra uma câmera e filma suas férias está fazendo um filme político. É o que eu chamo de filme político. É o único filme que ele pode fazer. E só acontece porque é permitido, porque ele está de férias. Mas, estranhamente, ele não pode filmar o próprio trabalho. As câmeras são proibidas nas fábricas e no ambiente de trabalho.

O sacro-santo “direito de trabalhar” é um velho clichê entre os trabalhadores da França que eu quis mostrar como um informante, um cineasta. Com o meu direto de trabalhar enquanto cineasta, posso dizer que é tão difícil de realizar em qualquer lugar que seja permitido filmar. Porque nós vivemos sob o reino da propriedade privada. Onde não é permitido filmar nem nos lugares públicos. Eu não tenho o direito de filmar no metrô, em um museu, em uma fábrica, ou em um aeroporto. Eu não tenho o direito de filmar em nenhum desses lugares. Onde está meu “direito de trabalhar”?

O explorador, jamais vai contar para o explorado como realiza a exploração. Somos nós que vamos contar. Precisamente, este é o trabalho do cinema, da imprensa e da televisão: contar. A grande diferença é encontrar dentro desse campo uma nova maneira de contar para que finalmente, sejamos capazes de dizer uma outra coisa.”

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E bom feriado.