quarta-feira, 29 de julho de 2009

Para Dylan e Ginsberg

Eu estava com você no dia em que

escalei montanhas que emergem para além dos olhos, que visitei o despertar chuvoso dos subúrbios, que sobrevoei cidades onde cães andam de cadeira de rodas, que acordei em algum hotel ordinário na Glória às cinco da madrugada com crise de asma,

que fui dado como desaparecido, entre traficantes, no meio do Pacífico, que protestei contra a Guerra, qualquer uma delas, que assinei notas promissórias para Rui Barbosa, que me entupi de quindim em Feira de Santana, que frequentei bares na beira do Rio Vermelho onde li e reli Jorge de Lima,

que perdi a razão no carnaval de Santos, que passei pelos incríveis rituais de sobrevivência na boemia mineira, que na Rua do Livramento eu ateei fogo em uma lixeira para um grupo de turistas fotografar,

que eu bebi para me confessar, que estive em uma cidade onde a população cansou de andar vestida, tiros gritos e correria na Serra da Canastra, que a gente dava passeios no Itororó, que descobri que tem gente nesse aborrecido mundo que mata só pra ver alguém fazer careta,

que fiquei sem amor como espelho sem imagem, que parei numa sala onde um homem contava o dia em que escalou bêbado e nu, vinte carros de polícia estacionados, que decidi que tudo o que eu viesse a escrever estaria contido de você.

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Na foto, o cantor Bob Dylan e o poeta Allen Ginsberg em frente a lápide do escritor Jack Kerouac.

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