segunda-feira, 20 de abril de 2009

SINÉDOQUE, RIO DE JANEIRO

Mudar de lugar na praia e seguir aprazíveis raios de sol. Ser o último a ir embora. Almoçar em um restaurante perto de casa. Ficar preocupado com uma coisa estranha que apareceu no seu corpo. Atender a mais uma ligação de alguém que quer saber onde você está. Pergunta também que horas vai ser o jogo e se vai ser transmitido.

Outro amigo que você não via há bastante tempo aparece atrás de cigarros. Lembra de um compromisso que tinha marcado para aquela noite e decide ir para um outro lugar. Você está entre pessoas que você conhece há muito tempo e pessoas que você acabou de conhecer e se sente acolhido e agitado ao mesmo tempo. Você não se reconhece nessa hora. No mesmo instante, chamam por você. Alguém irreconhecível. É o seu chefe.

Quanto tempo faz que você está aqui, pensa. Dez anos? Seis meses? Quinze dias? Um motorista de táxi conta que aquela seria a última corrida do dia. Tinha que ir para o aniversário do filho em Campo Grande. Ele reclama da distância e da violência. Tem orgulho do filho que completaria 28 anos naquela noite. É uma idade boa, a frase sai junto com a sua respiração. O motorista agora fala sobre futebol. Você pergunta se o jogo foi transmitido. Ele não sabe. Ouviu pelo rádio.

Você se lembra quando ouviu rádio pela primeira vez e do encanto das luzes do amplificador do seu pai e que depois você vendeu. Você pensa na distância ridícula que separa o seu apartamento do dele e mesmo assim você não o vê. Alguém liga pra você de novo. É sua mãe. Ela sofreu um pequeno acidente. Agora já está tudo bem. Ontem você pensou nela enquanto comia Macaxeira e dançava Macarena.

Você precisa ter idéias para o seu trabalho e começa a fazer anotações em alguns cadernos que você tem. Acha que está exagerando em anotar qualquer coisa que passe por sua cabeça, mas você pensa no filme que acabou de assistir. Enquanto volta para casa, com as ruas vazias e os bares fechados, você pensa em escrever e que nada pode estar antes disso.

Abre a janela e percebe que o vento da noite é agradável. Você já molhou as plantas? Você tem vontade de escrever sobre o filme. Está em frente ao computador e nenhuma ideia ocorre. A tela está em branco. Você lembra dos atores do filme. Lembra que sentiu um pouco de tédio durante a projeção ao mesmo tempo que não conseguia desgrudar da tela e que personagem miserável aquele. O diretor do filme, Charlie Kaufman, tem 51 anos, é um gênio. Você não sabe o que fazer. Você tem uma boa ideia e escreve.

sinedoque

2 comentários:

Ricky disse...

se nao é do duque é do que a sinedoque?

Anônimo disse...

ótimo texto e quero ver esse filme, foi bastante comentado no curso. fiquei curiosa... beijos ;D