sexta-feira, 3 de abril de 2009

OS ANÉIS DE SATURNO

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Leio “Os Anéis de Saturno” de W.G. Sebald (1944-2001) e tenho a estranha sensação de que até agora está tudo bem. Mesmo diante de uma narrativa onde a ênfase está na profusão de imagens de cidades arruinadas por inúmeras guerras, famílias inteiras destruídas, paisagens exuberantes e despovoadas.

A fluência e a tranqüilidade dos relatos das caminhadas do autor na costa leste da Inglaterra entremeadas por fotografias, sonhos, lembranças, pinturas, objetos e correspondências impressiona sem escandalizar. Se Joyce falava da necessidade de se acordar do pesadelo da história, quem programou o despertador foi Sebald.

Dizia Paulo Francis que se você lê os grandes mestres sabe que eles estão falando para você. Logo, numa dessas transmigrações de universos, imagino o que escreveria Sebald durante o rescaldo de uma operação da polícia na Ladeira dos Tabajaras ou em qualquer favela.

O percurso de Sebald é inclassificável. Romance? Diário? Ensaio? Delírio? Ou tudo junto e misturado? A pesca do arenque, a Guerra do Ópio, extinção de florestas, escombros e cinzas. A realidade caótica de um mundo que está desaparecendo.

“Os Anéis de Saturno” é um livro que também desperta a viagem da própria leitura. Em um dos capítulos, Sebald menciona o conto “Tlon, Uqbar, Orbis Tertius” de Jorge Luis Borges sobre as nossas tentativas de inventar mundos para se chegar, através do irreal, a uma nova realidade.

Depois de reler o conto de Borges, pensei em Paulo Francis mais uma vez em um de seus artigos para o Pasquim quando ele dizia que “A realidade é transformável. Mesmo que não seja.”

Uma nota rapidinha: Na revista “Piauí” desse mês tem uma história em quadrinhos do Crumb (ÊÊÊ!!) sobre o “Fashion Week” de Nova York, mas poderia ser aqui ou em São Paulo. Achei que a globalização já estivesse fora de moda mas foi mero engano.

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