terça-feira, 23 de março de 2010

Notícias de Paqui



Paqui é o Chimpanzé paquistanês mais inteligente do mundo que eu já conheci. Durante alguns anos trabalhamos juntos em seu fotolog (fotolog.com.br/paqui). Ele ditava as pautas, eu escolhia as imagens e vice-versa. Hoje, mesmo sem notícias seguras sobre seu paradeiro, nossa amizade e parceria não se perdeu na noite dos tempos.

Revirando o baú do Fotolog encontrei algumas cartas que ele me escreveu. Esta é de 2006, acho que a novela das oito era "Páginas da Vida", também era ano de guerra no Líbano, Copa, eleição, tsunami...

Oi, H.!

Tudo certo? E o meu Fotolog? Tem cuidado direitinho? Espero que, ao contrário do nosso governo, ele esteja bem. Não esqueça de fazer o upload daquela nova série de “correspondências” que eu lhe pedi. E desculpe começar assim com um pedido, já que não nos falamos há algum tempo. Uns vinte minutos, acho. Sei que não é nada demais, que é um trabalho que qualquer um pode fazer, mas foi você quem demonstrou uma compreensão maior sobre tudo o que eu faço. Tão maior que nem eu mesmo compreendo.

Não tenho acessado para ver como está, pois daqui é um tanto difícil. A conexão é ruim e a internet ainda é em preto e branco. Mas não se preocupe, vai dar tudo certo. O que eu posso lhe informar é que (como se você já não soubesse) tudo é muito estranho. É claro que nada mais estranho que o Diogo Vilela vestido de Cauby Peixoto, não é verdade? Mas uma coisa me incomoda mais que as outras: Aqui as pessoas não possuem o hábito de lanchar. Portanto, se você pretende algum dia vir me visitar, eu te aconselho a trazer pelo menos umas seiscentas gramas de mortadela, dez pãezinhos e um refrigerante dois litros pra gente não passar fome no fim de tarde. Ficarei eternamente agradecido.

Ontem eu tomei coragem e comecei a organizar meus arquivos. Pensei: Vou começar a empacotar as coisas antes que eu empacote. Acho que fiquei sentimental demais essa semana e tive saudades de você como tenho saudades de minha terra.

Já sei porque a nova novela das oito é uma pasmaceira. Falta bunda. Não tem bunda! Onde é que estão os crioulos? Quer dizer que negão no Leblão é sinônimo de ladrão? Até a filha da empregada é loira e peituda. Não tem um neguinho na trama. Ah, é! Tem os serviçais. Eles tem até voz! Até falam! Ah! Tem o filho da Sandra de Sá que tá quase cinza de tanta maquilage. Saquei. Quer dizer, saquei não. Deixa ver se eu saco...

Daí, diz que teve uma senhora de 69 anos que falou em orgasmo. Bem, até que pra idade dela, o assunto é bem sugestivo. Vou até aproveitar e mandar outras sugestões para o autor. Talvez fosse conveniente para ele buscar inspiração em outros temas como: Bondage, Podolatria, Gang Bang, Pompoarismo, Chuva Dourada e Massagem Prostática, ou seja, todas essas coisas que realmente interessam a família brasileira. Pelo menos à minha interessa.

Olha, eu confesso que já havia até me esquecido como é bom andar no centro da cidade. Tenho a sensação de que tudo ali está em funcionamento, que eu sou apenas mais uma peça dessa enorme engrenagem, que tudo afinal é apenas um jogo e que tudo isso pode ser apenas uma sensação, mas me faz um bem enorme. Gosto de visitar as livrarias, os bares e o PCdoB. Partido que agora estou filiado. Não me pergunte porque.

O que mais pode dar errado? O governo é uma decepção do cacete, perdemos a Copa como nunca perdemos antes, os candidatos a qualquer coisa não diferem muito dos candidatos a qualquer coisa da última vez em que tivemos que votar em algum candidato a qualquer coisa. Beirute não é mais sinônimo de sanduíche e até a Tsunami voltou. Tudo bem, daqui a pouco tem epidemia de dengue e arrastão. Essas coisas que a gente só vê em novela.

Bom, em uma coisa eu acredito: Você.

Drop your bombs between the minarets. Down the Casbah way. E a gente vai se acostumando com a guerra. Ela está em todos os lugares. Acostumar-se com ela é como olhar as vitrines das lojas sem ter a menor idéia do que ou porque está se olhando.

Eu lembro que uma vez você me disse que seu avô era Libanês, que você gostaria muito de visitar a terra onde ele nasceu pra imaginar quem você seria, se ele não tivesse saído de lá. Muito comovente. A gente passa a vida inteira a imaginar um lugar e acontece algo que transforma este lugar numa coisa que a gente nem imagina. Por exemplo, entrei num desses fast-food e a comida demorou horas para sair. Eu gostaria de processá-los por propaganda enganosa, mas meu advogado já me indicou uma nutricionista e tá tudo certo.

Um abraço inigualável,
Paqui.

Um comentário:

Frida disse...
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