I
Ontem passei por essa mesma rua e anteontem e antes de antes de anteontem também.
Ouço de longe o barulho de sirenes de polícia, ou de bombeiros, ou ambulância, não sei a diferença. Carros passam apressados e buzinam para que outros carros saiam da frente. Eram motociclistas abrindo passagem para um carro oficial do governo.
Perto da banca de jornais um homem discute com um policial. Não consigo entender o que eles falam. Logo, uma aglomeração impede que eu veja os dois. Vejo apenas braços gesticulando.
Muito barulho por aqui. Carros buzinam perto da minha casa. Formam-se engarrafamentos a toda hora. Um amigo reclama de não conseguir dormir direito há três dias.
As pessoas falam alto em bares e restaurantes. Além do barulho da rua, existem TVs por toda parte que mesmo com o som desligado, parecem falar mais alto que todos.
Estamos construindo ou destruindo cidades?
Paro um segundo, acendo um cigarro no isqueiro pendurado na banca de revistas e leio as manchetes.
"Perseguição e morte no centro da cidade."
II
Agora estou na livraria do shopping. Ando entre as estantes e vejo um menino rindo com um livro nas mãos. Espero ele deixar o livro em algum lugar e depois que se afaste. Eu me aproximo e tento descobrir qual é a graça.
Era um livro sobre monstros e conforme o ângulo que olhamos a capa, aparecia um lobisomem, um zumbi e um vampiro, acho. Dava um efeito engraçado mesmo.
Lembrei de uma frase de Orhan Pamuk: "O encanto de uma livraria não está nos livros, mas na variedade de suas capas."
Encontro um lugar na cafeteria e faço anotações com a caneta emprestada da garçonete. Protejo o papel, como se fosse do interesse de alguém.
Peço um café e uma água com gás.
A trilha sonora desse lugar é horrível.
Escrevo tudo isso muito rápido, termino a água, o café e saio com os dedos sujos de tinta de caneta.
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