sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Paul Celan
IR-AO-FUNDO
a palavra que lemos.
Os anos, as palavras desde então.
Somos sempre os mesmos.
Sabes, o espaço é infinito,
sabes, não precisas voar,
sabes, o que se escreveu em teu olho
aprofunda-nos o fundo.
1963 - "A Rosa-de-Ninguém"
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
RASCUNHOS - II
Manaus, mana
Entre quedas de energia,
tropeços, internet lenta, calor de 44 graus,
a floresta pela janela do avião, notícias pelo celular,
o teatro lotado , mais calor,
mãe, tia, prima, sobrinha, irmão, irmã suavizam tempo quente
risos em família,
aqui me encontro , assim, sem idade definida
em busca do primeiro Açaí, o primeiro banho de rio, a primeira volta na praça,
poucas palavras, sentir demais, esforço para pensar
uma estante cheia de livros, a cabeça vazia e um beijo sabor Uxi
domingo, 16 de agosto de 2009
RASCUNHOS - I
texto
palavras
É números, eu me preocupo ou tenho me preocupado com números
191 milhões de brasileiros é gente à beça e eu já tô a pampa
RG CIC senha do banco celular contas a pagar noves fora
deve ser coisa da idade...8 anos, sabe?
Haha.
virou mais uma vez a cara da máquina de escrever e deu mais uma tragada no cigarro está bom por hoje
Às vezes eu acho complicado comprar um sabonete. Sério memo.
Complicada essa idéia de achar que o cigarro deixa mais criativo
As sinapses elas...
E as Mênades, como andam?
Vão bem, graças a Zeus.
TEXTO: Escrever é muito difícil.
FALA: Sinto-me culpado quando não escrevo. Essa fala não é minha é de uma entrevista com Antonio Lobo Antunes
e todos esses narradores e vozes seriam da mesma pessoa?
a gente veio aqui pra acumular conhecimento e depois voltar um pouco melhor talvez seja mesmo uma coisa cármica
Sério memo?
estou me referindo a
acúmulo de vozes e essa insônia que não passa é sempre assim depois da gira
hoje talvez tenha sido um pouquinho mais comovente
fascínio por rituais
“Oiá cresceu protegida por Oxum”
Penso em iansã penso em minha mãe o vento que abraça
Alguém ligou o rádio: “amigo é coisa pra se guardar...do lado esquerdo do peito...”
E eu não posso comer camarão
TEXTO : Silêncio
“E o coração lá…”
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Todo dia é dia D
Desde que saí de casa
trouxe a viagem da volta
gravada na minha mão
enterrada no umbigo
dentro e fora assim comigo
minha própria condução
há urubus no telhado
e a carne seca é servida
escorpião encravado
na sua própria ferida
não escapa, só escapo
pela porta da saída
todo dia é o mesmo dia
de amar-te, amor-te, morrer
todo dia é dia dela
pode ser, pode não ser
Todo dia menos dia
Todo dia é dia D
Torquato Neto
terça-feira, 11 de agosto de 2009
RIOBALDO, MIA COUTO E O HOMEM CONDESCENDENTE À DERIVA
- Me inventei nesse gosto, de especular idéia. – Sentenciou Riobaldo.
Ora vejam, cá está de volta o homem condescendente que entende que tudo é muito mais simples e que a natureza é mil vezes mais interessante e que nossos problemas são ridículos se comparados a imensidão dos mares rios montanhas e o céu de agosto mas logo logo o homem condescendente fica contrariado e pensa nos nóia pensa na cracolândia e pensa que será que ele mesmo já não se tornou um nóia? Um nóia da nóia? O nóia da nóia do nóia? Mesmo sem crack é o craque da nóia Que sujeito!
O homem condescendente pensa que dorme demais pensa em parar de comprar cigarros e achocolatados para começar a comprar cigarros de chocolate pensa em escrever o poema impecável e definitivo pensa que existe saudade de idéia e saudade de coração e quem é que sabe das contas do Estado? ninguém
- E vão demolir o puteiro? – Indagou.
- Tu já foste a Help? – Devolveu Riobaldo.
- Eu? Não tresmalho! - Respondeu feito Riobaldo.
E nada como uma sessão de cinema no meio da tarde Oh a beleza imaterial dos afetos E que coincidência ter um escritor neste filme, será o mesmo escritor do filme da semana passada? Começo a acreditar que sim Tudo é e não é
Riobaldo, Mia Couto e o homem condescendente sentaram por ali perto afinamos silêncios e o filme começou
domingo, 9 de agosto de 2009
EXERCÍCIO
Uma imagem do futuro espero chegar aos 80 anos com muitos netos puxando minha barba
Uma imagem do passado é uma imagem de infância voltas na Praça São Sebastião final de tarde cheiro de açúcar queimado sorvete de açaí e tacacá depois da missa o sino da igreja pontuando as horas o teatro iluminado
Hoje eu me debato com a vontade de ter alguma coisa para escrever
domingo, 2 de agosto de 2009
Eu gosto de andar na Praia de Copacabana
Eu gosto de andar na praia de Copacabana
Em dias assim de inverno que o sol vem pra aquecer a gente
Tem que aproveitar, dura pouco
No fim da tarde entra em cena um vento gelado, ártico. Brrr
E eu gosto é de andar com o sol a pino
Voltar pra casa suado e cheio de ideias
Nenhuma de ordem prática, a bem da verdade
Mas o simples fato de ter uma ideia é um sinal qualquer da própria existência
“Mas isso não impede que eu repita...”
Em cada quiosque um grupo de pagode.
Como tem turista em Copacabana, pela mãe do guarda!
É fácil reconhecer italianos. Eles falam com as mãos.
“Vejam...essa maravilha de cenário...”
Caipirinha, cerveja, côco e camarão
Tudibão
Que bela rima, negão
“Deixa a vida me levar...”
Gosto do jeito que certas mulheres olham em direção ao sol
Vai vendo
Eu fico como
Daquele jeito
Ah moleque
Olha o Drummond. Tão bonitinho ele.
Perdeu os óculos e a esperança
“De que serve esta onda que quebra
E o vento da tarde
De que serve a tarde
Inútil paisagem”
Lembrei dessa música
Quando toquei a areia com os pés
Lembrei de tanta coisa
E voltei pra casa.