quarta-feira, 11 de março de 2009

A LEGIÃO URBANA SEMPRE VENCE



Pensei: Escrever alguma coisa alguma coisa sobre a volta de Sarney, Collor e Renan Calheiros. Mas a verdade é que esses caras nunca foram, logo, como poderiam voltar?

Aproveitando a lebre levantada por meu amigo Fred aqui objeto sim objeto não em “O Brasil como frustração”, especulo sobre os sucessivos desastres políticos que sofremos até aqui revisitando o “V”, disco da Legião Urbana lançado em 1991.

Naquela época, esperar por mais um capítulo de “O Dono do Mundo” era a única certeza permitida. O cinema nacional não existia e o din-din que a gente botava na poupança o governo (Collor) catou. A atmosfera era pesada. O clima era ruim. O tempo fechou.

Renato Russo em entrevista para Alexandre Matias, Folha de São Paulo, 2001: “A gente tentou fazer uma música alegre pelo menos, de tudo quanto foi jeito, e não saía. "Vento no Litoral" só tocou porque tem uma melodia bonita. Acho "Metal contra as Nuvens" uma música super acessível. O problema é que o disco falava de coisas que as pessoas não estavam querendo ouvir na hora. Foi quando estourou a axé music, a gente veio na contramão. Mas o disco tem as melhores letras, de longe. Consegui falar tudo o que eu queria. Mas as pessoas não queriam ouvir aquilo. Por exemplo, "Metal contra as Nuvens" é uma música sobre o Collor, mas nunca ninguém falou sobre isso.”

A banda parecia que estava perdendo a linha, Renato Russo no auge da vulnerabilidade e o mundo todo lutando contra a estupidez, o vazio e as forças do mal. “V”, um disco extremamente delicado e sincero onde, ao mesmo tempo, a sensação era a de estar de frente para um abismo.

Hoje em dia, você pode espetar o cabelo, mandar ver em alguns acordes na guitarra, gritar alguma coisa sobre o amor no microfone, pedir pro baterista esmurrar a caixa e o baixista fazer o bonito. É só ensaiar, marcar uns showzinhos, jogar alguma coisa no youtube que de algum jeito vai rolar. A coisa pode ser vazia assim mesmo já que o lance é entreter os outros. Diria Lester Bangs: “Ego é o veneno que embala todo popstar.” Nada contra. Se fode aí. A indústria cultural não tem muito mais a nos oferecer que rostos sem expressão. Mas, cabe a pergunta: “E aí, meu irmão, cadê você?”

Sujeitos como Lou Reed, Bob Dylan, Leonard Cohen, Arnaldo Batista, Bob Marley, Lee Perry, Peter Tosh, Renato Russo, Torquato Neto, entre tantos outros me fizeram aceitar o trágico da vida. Essa coisa que requer firmeza e imaginação. Tanta violência, mas tanta ternura.

4 comentários:

Artur Miró disse...

Soberbo. O de ontem e o de hoje. Vamo que vamo que é só o começo!

Abraços!

Gabriela Caspary disse...

.....ai ai......

Mari disse...

Detesto!
E vc sabe disso, né?
Eu pulei essa parte dos anos 80. Estava mais preocupada com o Cazuza.
O Renato era MUITO chato!!
O Brasil é muito chato!!
Mas, nós somos MARA!
bjos pro FRED!!

Maira disse...

Eu tenho trauma de Renato Russo e Cazuza. Com todo respeito.